Breve guia para não falar besteiras sobre o Sínodo da Amazônia...



À medida que se aproxima a data do Sínodo da Amazônia(6 a 27/OUT), tem se levantado vozes apocalípticas de alguns prelados da alta cúpula da Igreja. Prelados que nunca pisaram na Amazônia, e falam dos seus grandes gabinetes refrigerados. Lembremos o tema do Sínodo: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

A palavra “sínodo” vem de duas palavras gregas: syn que significa juntoshodos”, caminho, isto é caminhar juntos. Lembro que com o Papa Francisco avançamos cada vez mais para uma igreja toda sinodal. Há sínodos ordinários, extraordinários e especiais. O da Amazônia é um Sínodo especial.

A população pan-amazônica chega a 30 milhões de pessoas. Mas não é o número que marca a importância de um Sínodo. A Oceania tinha cerca de 30 milhões de habitantes quando foi tema de um sínodo, e a Holanda 14 milhões de pessoas quando também foi tema de outro Sínodo.

Grandes distâncias, diferenças culturais, interferência nos assuntos do Estado e da sociedade brasileira? Quase um terço (32%) da Amazônia fica fora do território brasileiro, pois ela é dividida entre outros oito países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, França, Guiana, Peru e Venezuela). 

Outros mais ingênuos dizem: O que ecologia, economia e política têm a ver com o mandato e a missão da Igreja? Meu Deus, que ingenuidade! Onde vivemos? Em marte? 

Nosso contexto é fundamental para a vida das pessoas. É impossível pensar a missão cristã em determinado lugar sem que ela repercuta politica e socialmente de alguma forma. Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente... dizia o grande Arcebispo e santo Dom Oscar Romero.

Não se trata de ingerência na política local, mas de fidelidade ao que se concebe como a missão da Igreja, que não se restringe ao âmbito litúrgico e catequético. 

Instrumentum laboris levanta a possibilidade de ordenar pessoas casadas para o presbiterado, embora não seja isso a questão principal do Sínodo. Em outro texto, já sublinhei o fato de que padres casados sempre existiram na história da Igreja Católica: na tradição Oriental de forma comum, e na tradição Ocidental como exceção. 

Alguns cardeais mais críticos do Sínodo da Amazônia (Brandmüller, Müller, Pell...) rotulam a petição pela ordenação presbiteral de homens casados como uma reivindicação da abolição do celibato. Não é verdade. Por mais que a Igreja Católica amplie as possibilidades de ordenação de homens casados, o celibato sempre continuará existindo. O celibato é parte constituinte da identidade dos religiosos, isto é, dos membros de Ordens e Congregações Religiosas (jesuítas, os franciscanos, beneditinos, dominicanos, etc.) que podem ou não ser ordenados presbíteros e respondem ao superior de sua ordem e não ao bispo diocesano. E mesmo no clero diocesano o casamento nunca será um requisito para a ordenação. O celibato não é o problema. Mas repensar as exigências para o ministério presbiteral será sempre uma questão aberta.

O centro das deliberações será a situação dos povos da Amazônia e os problemas que eles experimentam: exploração descontrolada da riqueza natural, desmatamentos, garimpos, grandes projetos hidrelétricos, monoculturas enormes, desrespeito às tribos indígenas, e as suas culturas e territórios... 

Também devem ser repensadas as funções dos leigos e leigas como lideranças nas comunidades, além de ampliar as tarefas destinadas às mulheres.

Quem participará do Sínodo? Os Bispos Diocesanos das oito províncias eclesiásticas da Região Pan-amazônica. Também participarão alguns membros dos dicastérios da Cúria Romana, e membros da rede Pan-amazônica (REPAM), como alguns representantes que prepararam o Sínodo. Além disso, estarão presentes alguns religiosos envolvidos pastoralmente na Amazônia, e alguma lideranças indígenas. O Papa Francisco também nomeou peritos, leigos e eclesiásticos, que ajudarão na redação dos documentos do Sínodo. 

O quadro então se completa com os observadores, e delegados de outras Igrejas Cristas que atuam na Amazônia, como alguns representantes de Instituições e religiões não cristas.

Estão previstos debates, plenárias com a presença do Papa, além dos trabalhos realizados em pequenos grupos de articulação em relação aos assuntos. A tarefa importante de sintetizar os debates cabe ao relator geral do Sínodo, Cardeal Cláudio Humes (Brasil), que é também Presidente da REPAM. Ele terá dois secretários especiais: Dom David Martinez de Aguirre Guinea (Vigário Apostólico de Puerto Maldonado – Peru) e o Pe. Michael Czerny SJ (Dicastério dos Migrantes, Refugiados e Desenvolvimento Integral da Pessoa Humana). Um grande conselheiro será também Dom Erwin Kreuter, Bispo Emérito da Prelazia do Xingu (Brasil).

A Região da Amazônia é chamada de “pulmão verde do mundo”, e por isso é considerado importante em sua influência para o clima de todo o planeta. Assim sendo, todos os abusos ecológicos na Amazônia influenciam negativamente toda a humanidade.
Assim, pois, as propostas pastorais para o território amazonense podem tornar-se modelos para outras Igrejas locais. Ultimamente, os olhos do mundo se voltaram para os povos desta imensa região de América do Sul. 
Acompanhemos e rezemos.


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