26º DTC: A INDIFERENÇA CRIA ABISMOS... (cf. Pe. Adroaldo Palaoro SJ)



A parábola é desconcertante: o rico Epulón e o pobre Lázaro. Inquietante porque nos situa frente a uma cena da realidade do nosso mundo: o abismo entre ricos e pobres. Esbanjamento de uns frente à miséria de outros. 

Nesta parábola Jesus critica a indiferença do rico diante do pobre faminto que está à porta. Texto perturbador pela situação do pobre faminto, coberto de chagas e o destino último do rico nas chamas do inferno. É o `abismo´ da `indiferença

Cultura da indiferença é ficar inermes diante dos problemas dos outros. A violência, a miséria, as escravidões e mortes não nos afetam mais. Vivemos numa redoma, como se nada disso tivesse relação conosco. Não choramos mais as dores do mundo ao qual pertencemos, anestesiamos nossa sensibilidade e entramos num estado de apatia geral para com tudo e todos. 

indiferença é desumana, pois edifica uma barreira intransponível entre pessoas, classes sociais, ideologias e religiões... Tornamo-nos isolados e negamos nossa condição criatural. Recolhemo-nos em nossos medos e inseguranças e acreditamos que os diferentes são inimigos. Da indiferença passamos ao discurso fascista, racista, homofóbico e práticas de segregação... quando, pelo contrário, deveríamos ser ilhas de compaixão num mar de indiferença. O grau de humanidade se mede pelo nível de sensibilidade diante da dor humana. A compaixão a melhor expressão dessa humanidade

A compaixão é central para sermos humanos. O sofrimento dos outros nos “descentra” e nos faz “descer com paixão” e nos situar ao lado deles. 

A `com-paixão´ é meramente uma reação “apaixonada” diante das injustiças sangrentas de nosso mundo. Nos sofredores há algo que atrai e convoca, que nos faz sair de dentro de nós mesmos, e nos tornar próximos deles. Brota a solidariedade.

O sentimento nuclear do Evangelho, o eixo ao redor do qual tudo gira, é a compaixão de Jesus“Sede compassivos como vosso Pai é compassivo” (Lc 6,36).

A compaixão é a capacidade de situar-se no lugar do outro, sentir e sofrer com ele. É provavelmente o máximo sinal de maturidade humana, e todas as tradições religiosas reconhecem isso. O budismo afirma que, enquanto alguém não for capaz de colocar-se no lugar do outro, não poderá alcançar a iluminação.

Se a compaixão é a coluna central do evangelho, não causa estranheza que as denúncias mais fortes de Jesus sejam dirigidas contra a indiferença. É o que revela a parábola deste domingo. A indiferença do rico epulón, incapaz de abrir a porta de sua casa ao pobre Lázaro, revela a mesquinhez do anfitrião.

Há um grande abismo entre nósintransponível depois da morte, e alimentado pela nossa indiferença. O pobre é invisível! Esse “não ver” cria um abismo profundo em nossas relações pessoais, em nossos países e em nosso mundo.

Há uma `massa sobrante´ que se torna `invisível´ porque nossa sensibilidade petrificou. É a `globalização da indiferença´ como fenômeno mundial. Comportamento nefasto que se espalhou como pólvora, e péssimo modo de proceder de uma humanidade corrompida.

Nós, seguidores(as) de Jesus precisamos vigiar se não quisermos cair na tentação da indiferença. Costumeiramente, tendemos ao conformismo. A indiferença é fortalecida toda vez que deixamos de acreditar que a realidade pode e deve ser diferente

O convite que nos faz a parábola deste domingo é o de abrir as portas do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela vizinho ou um pobre desconhecido. Sempre é tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós o encontra no próprio caminho. Cada vida que se cruza conosco é um dom e merece aceitação, cuidado e amor. 

Amar é abrir a porta do próprio coração...


Um comentário:

  1. Adorei texto muito lindo e real.
    Jesus veio e nos ensinou quântica e ninguem entendeu nada .
    ESte texto que me enviaste tem um certo conteúdo quântico .



    É do grande comos que nasce toda beleza da vida .
    Gautama Buda .

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