Espiritualidade Inaciana...



Santo Inácio não condensou sistematicamente em um livro a sua doutrina espiritual, mas essa pode ser deduzida, fundamentalmente, da sua vida e dos seus diversos escritos. 

Falemos, primeiro, do "espírito” de santo Ináciopara entender melhor a sua “espiritualidade”. O Espírito de Deus, dado a essa pessoa concreta, o fez pai de uma multidão de discípulos e discípulas de Jesus. Este modo de ser e viver é algo concreto e íntimo: vida que só se compreende quando se experimenta e comunica.

O espírito de Inácio é transformante e transformador. Ele chega à medula dos ossos, até o mais profundo do próprio “eu” para resgatá-lo e reorientá-lo para uma ação abertamente salvadora.Ele é essencialmente "claro". Assim o definia o Pe. Nadal, discípulo privilegiado de Inácio, confidente e seu braço direito: "claritas quaedam occupans ac dirigens", isto é, uma certa clareza que ocupa(a mente liberada) e que dirige(toda ação). Clareza de oração, orientação e ação. Amor liberado de toda afeição ou confusão da razão. Inácio, como um verdadeiro místico, agia sempre “no Senhor”.

O espírito de Inácio é uma aliança da sua pessoa com Deus. É próprio dos “acordos” fazer-se notar menos que os “desacordos”...Quem rema contracorrente sente mais a correnteza do rio do que aquele que se deixa levar por ela. Inácio decidiu deixar-se conduzir pelo Espírito de Deus, pela verdade, liberdade e amor. Por isso, apesar de tantas vicissitudes, caminhou livre na paz e na verdadeira humildade.

O Espírito de Inácio é a vontade animada pelo verdadeiro amor. Quando escutamos que alguém tem "espírito de luta”, de trabalho ou, pelo contrário, “espirito de porco”(de contradição) sabemos o que se quer dizer.O “espírito” é uma disposição afetiva atual da vontade em relação a um objeto ou ação empenhada. Esse espírito não se importa com os sacrifícios pessoais experimentados, pois busca interesses e experiências maiores. Evidentemente que aqui nos referimos ao “espírito bom”, que anima para coisas boas. O espírito bom guia nossa vontade pelo e para o amor.

Esse espírito aferrou radicalmente Inácio a Deus. Por isso, a Companhia, seguindo fielmente a Inácio, se apresenta como um caminho para Deus: "via quaedam ad Deum".

Lendo as regras de discernimento dos espíritos nos Exercícios Espirituais, sentimos que “Espírito de Deus” é sinônimo de consolação, manifestação afetiva e efetiva de uma presença divina. As consolações sensíveis são chamadas de “espírito” e são carregadas de espontaneidade afetiva, sensibilidade... A espiritualidade inaciana é, pois, esse modo próprio de ser e viver que tem aqueles e aquelas que experimentara os Exercícios Espirituais. 

A espiritualidade inaciana faz com que cada um encontre a sua própria vocação e se aperfeiçoe nela. Assim, o monge beneditino de Montecasino que fez, na quaresma de 1538, junto com o Dr. Ortíz, embaixador de Carlos V, o mês dos Exercícios sob a direção de Santo Inácio, não saiu daquela experiência “meio-jesuíta”, mas um verdadeiro e autêntico beneditino, penetrado da substância de Cassiano, Gregório e Bernardo, mais amante dos ofícios divinos e mais convicto do dinamismo do seu voto de estabilidade, tão caraterístico da Ordem beneditina. 

Diante do pluralismo sociocultural reinante, a espiritualidade inaciana,tanto para leigos e leigas como para os jesuítas, é verdadeiramente teocêntrica, e se define com as seguintes características:
  
·     Profundo amor pessoal a Jesus Cristo;
·     Sensibilidade contemplativa na ação,pois o Deus de Inácio é o Deus que trabalha em todas as coisas;
·     Serviço, pois as pessoas se sentem servidores da missão de Cristo na Igreja;
·     Solidariedade com os mais necessitados; 
·     Parceria e colaboração com pessoas de boa vontade; 
·     Apostolado qualificado; 
·     Liberdade operativa, numa santa audácia.


A espiritualidade inaciana nos compromete sempre mais com a pessoa e a proposta de Jesus.

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