SIGAMOS O EXEMPLO DA SAGRADA FAMÍLIA... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

  Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito... (Mt 2,13)

A história nos ensina que nos tempos difíceis os vínculos familiares se estreitam mais. Não podemos celebrar a festa da Família de Nazaré sem escutar o desafio de nossa fé. Há famílias abertas e famílias egoístas; famílias autoritárias e famílias onde se aprende a dialogar. Há famílias egoístas e famílias solidárias. Nossos lares serão um lugar de fraternidade humana ou de indiferença e insensibilidade social.

Já desde pequeno Jesus se solidariza com os pobres, pois também ele foi migrante, como tantos de nós. Ele é um Deus diferente que arma sua tenda nos acampamentos dos exilados, nas favelas e nos cortiços das grandes cidades. Ele é um Deus que compartilha a sorte dos pobres e dos fugitivos.

E Maria compartilha a sorte do menino, pois vive para ele, e com ele assume os riscos da fuga e do exílio num outro país. E, enquanto existirem mães que protegem e cuidam dos filhos, haverá um Natal. O bom José põe-se a serviço do Deus fugitivo, e expulso da sua cidade e do seu país. Como verdadeiro esposo e pai percorre com sua família os caminhos do desterro. Penso que, enquanto existirem pais que se se arriscam pela mulher e pelos filhos, como José, haverá um santo Natal.

Cada vez mais pessoas vivem o exílio na própria carne. Há famílias inteiras que precisam migrar de suas cidades, e até dos seus países, buscando condições melhores de vida. Cruzam mares, montanhas e desertos para bater à porta de países desconhecidos, onde enfrentam preconceito e a falta de solidariedade. Um nó na garganta se apresenta quando evocam saudosamente a sua terra natal. 

Hoje fazemos memória de uma família que viveu a dura realidade do exílio no Egito. Como tantos migrantes e exilados, Jesus e seus pais, fazem parte dessa corrente ininterrupta de homens e mulheres que foram obrigados a se refugiar em um país estrangeiro. Jesus, Maria e José são irmãos de todos os que foram forçados a deixar sua terra natal.

Em chave de interioridade, nosso “Egito” não é outro que a identificação com o “ego”, que nos reduz à pior das escravidões. “Egito”, em hebraico significa “lugar estreito”, e a “Terra Prometida” é o despertar da consciência, nossa verdadeira identidade, oculta detrás de tantos “mapas desumanos” que a nossa mente fabrica. É preciso transitar pelos territórios interiores com liberdade, integrando e pacificando vivências, fatos, encontros e desencontros.

Ao sair desse “egito interior”, iremos nos encontrando com todos aqueles que são obrigados a se deslocar. Só quem transita com liberdade pelos lugares interiores será capaz de ir ao encontro do diferente, de acolhê-lo e de entrar em sintonia com ele. Transitar pela interioridade alarga a mente, expande o coração e ativa uma nova sensibilidade solidária.

Pensamos, sentimos e nos relacionamos a partir de onde estão nossos pés. Quando pisamos lugares fechados, condomínios, nossos pensamentos e sentimentos ficam atrofiados. Vivemos um paradoxo: enquanto as redes sociais aumentam virtualmente o nosso horizonte, mais nos fechamos na nossa interioridade. Tal estreiteza aprisiona a solidariedade e dá margem à indiferença social. Vivemos encapsulados e sem espírito de hospitalidade.

A festa da Sagrada Família pede de nós cristãos “uma espiritualidade da acolhida” e estender pontes entre culturas, raças, sexos, crenças e visões políticas. Sair de nossos pequenos mundinhos para criar vínculos com tantos grupos, organizações, movimentos de solidariedade e hospitalidade.

A Sagrada Família nos mostra o modo de fazê-lo.

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