Vós sois a luz do mundo... (Mt 5,14)
O evangelho deste domingo é continuação das bem-aventuranças; estamos no início do primeiro discurso de Jesus, conhecido como “Sermão da Montanha”. As duas imagens, luz e sal, tem forte impacto na vida do seguidor de Jesus: iluminar e dar sabor. Quem foi iluminado, ilumina. Se colocamos sal no alimento, este ficará temperado.
A luz, por si mesma, é contagiosa e expansiva; e exalta o que belo e bom, na realidade e nas pessoas. Mas, o quê queremos dizer quando aplicamos a uma pessoa o conceito de iluminada? Quando as tradições religiosas falam de iluminação se referem a uma pessoa que despertou, ou ativou todas as suas possibilidades de ser humano. Uma pessoa plenamente humana vive uma interioridade iluminada.
Isto é o que está nos dizendo o evangelho de hoje: O caminho do seguimento de Jesus é de `humanização´, é de `iluminação´. É inútil tentar iluminar os outros, estando nós mesmos apagados, adormecidos, paralisados em uma obscura vida.
Devemos ter cuidado de iluminar, e não deslumbrar. Como é sedutor estar no candeeiro! Alguns anseiam estar no candeeiro, mas não tem luz. O candeeiro não é para que os outros nos vejam, mas para que a luz de nossas vidas ilumine melhor. “Estar no candeeiro” significa estar a serviço dos outros, pensando no bem deles, e não em nossa vaidade. Oferecer o que o outro precisa e não o que nós queremos lhe oferecer.
Às vezes, somos mais afeiçoados a deslumbrar do que a iluminar. O ego necessita fazer-se notar e brilhar, e não quer consumir-se nem passar desapercebido. Cegamos com imposições e tornamos inútil a mensagem de Jesus.
O sal é um dos minerais mais simples (cloreto de sódio), mas também é um dos mais imprescindíveis para nossa alimentação. A expressão latina “evanuerit” significa desvirtuar-se, desvanecer-se. A tradução melhor seria assim: se o sal perde sua qualidade, como poderá recuperar-se? Só serve para ser jogado nos caminhos e ser pisado pelas pessoas.
Há um aspecto no qual sal e luz coincidem: não tem utilidade por si mesmos. Se o sal permanece isolado em um recipiente, não serve para nada; só quando entra em contato e se dissolve nos alimentos pode dar sabor ao que comemos.
Segundo os entendidos, não é o sal que “dá sabor”; ele realça o sabor de cada alimento. O humilde sal é feito para os outros, para que os outros sejam eles mesmos.
O mesmo acontece com a luz; se ela permanece fechada e oculta, não pode iluminar ninguém. Só quando está em meio às trevas pode iluminar e orientar. A luz não é para ser vista, caso contrário, cega. A lâmpada ou a vela produz luz, mas o azeite ou a cera se consomem. Nossa existência só terá sentido na medida em que nos consumimos em benefício dos outros.
Ser sal e luz do mundo nos move a encontrar outras vidas, outras histórias, e outras situações. escutar outros relatos que trazem muita luz para a nossa própria vida; relativizar nossos absolutos e deixar-nos impactar pelos valores dos outros.
Ser sal e luz é dizer sim à vida; nunca alheios, nada desprezando, nada lamentando. Ser sal e luz é uma experiência de vida, um modo de estar no mundo. O chamado a ser sal e luz nos propõe um estilo próprio de vida aberto e expansivo: uma maneira alegre, pacífica, compassiva, responsável e generosa de estar presente neste mundo
O apelo de Jesus nos move a transformar o que, com frequência, é terra insípida ou deserto inóspito em um mundo mais humano, e com sabor de lar humanizador.
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