Uma reflexão sobre a bênção para casais homossexuais...



Sabemos que alguns países estão mais avançados do que outros nesta possibilidade pastoral de abençoar as uniões homo-afetivas. Quando duas pessoas estreitam publicamente uma aliança de vida, aí está Deus. Se é entre um homem e uma mulher a Igreja Católica reconhece nessa união um sacramento; não assim quando se trata de duas pessoas do mesmo sexo.

Seja como for, esse vínculo é sempre válido diante de Deus e dos homens. Quando dois seres humanos se entregam um ao outro para se ajudarem mutuamente, isso é de Deus, e Ele se alegra com a alegria das pessoas. Deus é amor!

Eis algumas reflexões para os casais homoafetivos: O vínculo vitalício, mesmo entre duas pessoas do mesmo sexo, vale diante de Deus mesmo sem a bênção oficial da Igreja. No matrimônio tradicional, os ministros são os esposos que, mediante o seu consentimento, dão-se mutuamente o sacramentoNo caso das uniões homossexuais, não há sacramento, embora ocorra isso na consciência dos parceiros. Se a bênção da Igreja não é possível, também não é  necessária. Do que se precisa então? Se o casal percebe, em consciência, a própria união como casamento, a Igreja não tem o poder de cancelar essa fé.

Sabemos que, para alguns casais, a bênção da igreja seria importante e significativa para selar seu amor e união diante de Deus, dos familiares e dos amigos. Sabemos também, que diante da resistência oficial da igreja os parceiros podem pedir a bênção diretamente a Deus, mas um gesto público e eclesial tornaria essa bênção de Deus mais visível, além de ser um gesto de solidariedade fraterna que poderia constar no Ritual de Bênçãos.

No caso de uma recusa por parte da igreja, a validade do vínculo não é posta em discussão, pois ela tem um significado diante de Deus, e também diante das pessoas. A presença de Deus não desaparece, mas a bênção por parte de um ministro seria um sinal relevante de acolhimento, empatia e apoio. Éssa bênção seria reconfortante e fraterna para os noivos, e negá-la não é humano nem cristão.

As objeções para uma bênção a casais homo-afetivos são fracas e a Igreja não as deveria ter em consideração.

evolução das relações humanas produziu, queiramos ou não,  novas formas de vida social. Como imaginar a criação divina vendo o ser humano necessitado de uma ajuda (Gn 2,18) e, negando essa ajuda a pessoas homo-afetivas? Isso não seria coerente com o amor de Deus. Quando dois seres humanos cuidam um do outro e vivem buscando amar-se, aí está também Deus. A fecundidade, neste caso, é a acolhida recíproca, a adoção de filhos e a solidariedade cultural com as outras pessoas.

A bênção de Deus mediada pelo ministro é um sinal do compromisso mútuo, reforça o afeto das pessoas. No caso dos gays, expressaria a ajuda mútua e a reconciliação até mesmo com a instituição eclesial que sempre viu com maus olhos as relações homossexuais. Negar a bênção de Deus equivale a negar a misericórdia de Deus-conosco, do Deus de Jesus. A Igreja Católica não precisa ser assim.

Uma Igreja solidária e pronta para rezar a Deus e ajudar o casal homo-afetivo é uma forma de fortalecer o bem existente nessas pessoas e na sua relação. É surpreendente que um casal homossexual peça ainda a benção na Igreja Católica quando sabe que ela sempre os marginalizou e até perseguiu. A bênção curaria essas feridas históricas que foram semeadas.

Muitas pessoas LGBT abandonaram a Igreja Católica por essa rejeição explícita. Portanto, se ainda há algumas pessoas homossexuais que se aproximam da Igreja e pedem uma bênção, deveríamos ser imensamente gratos por sermos dignos dessa mediação. Oferecer essa bênção a quem a pedir seria um sinal de conversão por parte da Igreja Católica devido à injustiça longamente cometida às pessoas gays, e ajudaria a restaurar nossa credibilidade diante de um Deus que não faz acepção de pessoas.

Essa nova atitude pastoral deveria valer para todos os marginalizados e excluídos, pois uma Igreja mais aberta é uma Igreja mais evangélica. Nesse sentido, a bênção para casais homossexuais seria também uma bênção para a própria Igreja.

Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas alguns passos já foram dados. Soube que dias atrás, um bispo do Sínodo da Igreja Alemã, em andamento, sugeriu isso no plenário e foi aplaudido por todos.

E VOCÊ O QUE PENSA?



4 comentários:

  1. Reflexão maravilhosa, lúcida e extremamente necessária para os dias atuais

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  2. Muito orgulhoso de você querido Padre Ramon! Uma reflexão justa e de acordo com o Evangelho de Cristo que sempre acolhe com misericórdia a todos os seus filhos! Uma Igreja mais humana e solidária é o que todos esperamos. (Geraldo L. A.)

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  3. que bonito, amigo. Este é o caminho. Abraços saudosos na certeza de que Deus é bom.

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  4. Deus não julga a homossexualidade em si, mas o exercício inadequado da sexualidade humana.
    No meu ponto de vista, Deus quer sejamos acolhedores, mas a igreja não pode aceitar tudo.
    O pontífice afirma que a Igreja não deve discriminar os homossexuais, mas que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não está "no desenho de Deus".

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