13º DTC: UM CORAÇÃO PARA AMAR... (Pe. A. Palaoro SJ)

“...porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós” (Mt 11,29)

Inútil discutir e dar voltas: O distanciamento social veio e começou a fazer parte do nosso ritmo cotidiano; não nos resta outro remédio a não ser tomar medidas para aprender a manejá-lo e a incorporá-lo em nossa vida da maneira menos danosa possível.

De fato, seus perigos são evidentes: o distanciamento físico pode gerar o distanciamento social (“que não me venham com mais problemas, porque eu já tenho os meus”) e desembocar no distanciamento emocional(“sinto as pessoas como uma ameaça”).

O evangelho deste domingo pode oferecer uma inspiração para este momento que vivemos.
Todo distanciamento (físico, social, religioso, cultural, político...) pode ser quebrado a partir do coração. A proximidade começa pelo coração: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”.

Ao se apresentar como referência para os seus discípulos, Jesus frisou duas atitudes pelas quais pautava a sua vida: mansidão e a humildade. Elas são o reflexo das bem-aventuranças.
É do coração que brotam a mansidão e a humildade, únicos remédios que substituem a expressão do afeto manifestada por via táctil (dar as mãos, abraçar...). 

Este “tempo de confinamento” nos faz tomar consciência de nossas debilidades, quebrando toda auto-suficiência; ao mesmo tempo, está nos fazendo experimentar que não somos donos de nossos estados de ânimoe que precisamos dedicar tempos ao descanso e à gratuidade. 

Vivemos a cultura da produtividade, da competição e da eficiência, e isso nos deixa cansados e tristes. Constatamos que nossa fragilidade carrega em si a necessidade de sair, de passear e de reaprender a estar com os outroshumildade e a mansidão nos trazem para o chão da vida e nos possibilitam viver com mais humanidade. Quando vivemos a debilidade de forma agradecida, é mais fácil perdoar que condenar, compreender que murmurar, aceitar que julgar.

A debilidade humana descansa nas mãos de Deus. Talvez seja esta a aprendizagem principal de nossa vida, pois a temos saboreado internamente. “Descansar” não é a outra face da ação de trabalhar; é ter parte na vida mesma de Deus, onde ação e repouso coincidem numa única pulsação. O decisivo é ir ao seu encontro e aprender d’Ele a sermos mais humanos.

Nesse sentido, as bem-aventuranças da humildade e a mansidão são o terreno sólido sobre o qual podemos assentar nossa vida e ativar todas as potencialidades humanas que nos habitam.

“Humildade” vem de húmus, chão, barro. Ela está vinculada ao amor à verdade e a ele se submete. Ser humilde é amar a verdade mais que a si mesmo.

“Onde está a humildade, está também a caridade” (S. Agostinho). Sem humildade, o ego só vê o outro como objeto ou como inimigo. A humildade conduz à pura gratuidade do amor.

Mansidão não é debilidade, mas força suavizada; ela não é a atitude medíocre daqueles que se sentem anulados pela presença violenta do outro. É força que não provém da violência externa, mas de uma transformação interna. 
A mansidão cristã é plena de força. A mansidão é o estado interior a ser alcançado pelos corações dos homens e mulheres livres. Quando perdemos a mansidão, vemos nossa liberdade diminuída; entramos na lógica do revide e a emoção indomada preside nossas ações.

Como seguidores d’Aquele que é o humilde artífice da paz, testemunhamos e profetizamos que a mansidão é o verdadeiro rosto da Igreja.

Bem-aventurados os humildes e os mansos! Graças a eles as distâncias entre os humanos diminuem...


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