UNIDADE NA CARIDADE... (Pe. J. C. Rengucci, PSSC)




Quando falamos de discernimento pastoral, e principalmente das atitudes necessárias para esse processo, é essencial ter em conta o discernimento pessoal, pois sem ele não podemos adentrar no cuidado pastoral. 

Hoje colocamos dois elementos necessários no discernimento: unidade e caridade. Aspectos constitutivos que se fundem para serem vividos neste processo. Para isso, citamos um parágrafo que destaca o desejo do Pe. Ottorino, o que ele sentiu e sonhou, para poder ajudar como horizonte.

“Existe uma caridade por cultivar em nosso meio que nos levará Àquele que é Caridade. Por isso, reúnam-se com frequência entre si para rezar juntos e discutir fraternamente a melhor maneira de viver a caridade e encontrar os meios mais adequados para divulgá-la... Temos que estar prontos... pessoalmente... para manter a caridade e a unidade”.

Promover duas atitudes e condições essenciais: UNIDADE e CARIDADE, palavras tão maravilhosamente expressas, e muitas vezes pouco experimentadas. Para expressar a sua importância na implementação do processo, as colocamos como a chave para o discernimento sinodal, neste Kairos. É sempre bom lembrar que o discernimento de espíritos é uma maneira de encontrar e seguir a vontade de Deus, de acordo com a tradição de Santo Inácio de Loyola. Trata-se de distinguir o que vem do bom Espírito e que traz mais satisfação interior, senso de vida e comunhão; e, pelo contrário, o que vem do espírito ruim, que é oposto ao anterior: confusão, perda de significado e ruptura interna negativa.

Com base nisso, vale a pena fazer o convite para adentrar em uma genuína atitude de discernimento sinodal, de buscar e encontrar a vontade de Deus. Com isso, espera-se não cair na armadilha de entrar em controvérsias antes do discernimento, onde poderíamos ser distraídos por certas posições que não enriquecem o processo.

Ponhamos o olhar na Unidade. O Papa Francisco nos lembra: “A unidade não é primariamente o resultado de nossa ação, mas é um dom do Espírito Santo. No entanto, isso não será um milagre no final, a unidade vem pelo caminho, o Espírito Santo a constrói nesse caminho.” A base se encontra no Evangelho: "Que todos eles sejam um!" (cf. Jo 17,22). Esse convite nos desafia para nos tornar, primeiroum dentro de nós. Às vezes, não nos sentimos em harmonia, ou temos conflitos internos e externos. A consciência, à luz de Cristo, ilumina nosso espírito e responde aos sussurros do mesmo Espírito Santo que deseja seguir o que é certo. Tornar-se `um´ dentro de nós mesmos, nos prepara para uma bênção ainda maior de nos tornarmos `um´ com o outro em Deus. Quando isso acontece, Deus está presente.

É importante destacar o valor da unidade, a convicção real de que todos precisamos um do outro, e temos que nos apoiar fraternalmente para alcançar nossos objetivos e metas; não podemos viver separados dos outros, mas devemos sempre criar pontes de união para viver juntos, em harmonia, com a graça da caridade, e não apenas nos dando bem, mas também buscando essa unidade na caridade. Lembro a frase de S. Agostinho: No essencial, a unidade; na dúvida, a liberdade; em tudo, a caridade...

Dessa maneira, concentraremos a energia e direcionaremos o pensamento, as ideias e os desejos de modo que eles estabeleçam um objetivo claro, a ser alcançado. A realização desse caminho nos confronta com o outro desafio, que é a caridade. Caridade que são os hábitos de Deus impressos na nossa inteligência e na nossa vontade, para ordenar nossas ações com Deus. Amar o próximo inclusive acima si mesmo! A caridade é a virtude teológica pela qual Deus é amado acima de todas as coisas. Essa prática exige a correção fraterna; benevolência recíproca, sempre altruísta e generosa.

Deus não tem simplesmente o desejo ou a capacidade de amar; Deus é AMOR; e a caridade é sua essência, sua natureza. Ele é único, mas não está sozinho; não pode estar só, não pode se fechar, porque é comunhão de pessoas. O amor, por sua natureza se comunica e se espalha. Deus nos associa à sua vida de amor”.

Sem dúvida, o desejo de unidade na caridade é uma moção do bom espírito, e não apenas um slogan. Saber identificar o que é de Deus e sentir a sua “consolação espiritual” (EE 316): aumento de esperança, fé, unidade e caridade, alegria interna que atrai as coisas de Deus. Pelo contrário, a “desolação espiritual” (EE 317) não é de Deus, e se sente como trevas na alma, confusão (inquietação destrutiva), que nos inclina à desconfiança e ao absurdo.

Esses dois aspectos, vividos primeiro de maneira pessoal, são fundamentais no discernimento pastoral, de modo que nos levam a reafirmar que somos chamados a fazer uma leitura séria e profunda. Que devemos discernir com coragem e liberdade interior o que Deus nos pede nesse momento que reconhecemos como um verdadeiro Kairos. Um momento especial e propício para reconhecer a revelação de Deus para cada um de nós, e para a missão, em um mundo onde Ele continua sonhando o bem da humanidade.

Unidade na caridade, sabendo que discernir é saber viver no cotidiano o extraordinário de Deus.


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