Quarta-feira com cinzas... (cf. A. Palaoro SJ)


Antes de empreender o caminho quaresmal, antes de querer fazer a travessia do deserto, é necessário inclinar um pouco a cabeça e receber o perfume de nossas cinzas. Tal e como Jesus nos recomenda no Evangelho de hoje, não se trata de desfigurar nosso rosto, mas de nos deixar transfigurar.

 

As “cinzas” são o símbolo daquilo que morreu e foi reduzido à sua expressão mínima. 

Aquilo que passa pelo fogo, é necessariamente renovado. Animar-nos, neste tempo de travessia, a acender o fogo para converter em cinza tudo o que é caduco e ultrapassado em nós; e ao nos ver rodeados de cinzas, sentir-nos-emos esvaziados de nossas falsas seguranças e ilusões, de nossa prepotência e auto-centramento.  

 

Das cinzas surgirá a oportunidade de uma nova vida, mais aberta e expansiva; as folhas caídas darão lugar ao novo broto e isto implica atrever-nos a viver com maior intensidade e criatividade, fazendo a dura travessia em direção ao novo que nos humaniza.

 

O quê podemos cultivar nestas próximas semanas quaresmais? 

 

A oração como busca do Deus compassivo, e isso implica uma escuta verdadeira da Palavra e uma sintonia profunda com Aquele que sempre se revelou Mestre.

 

A esmola como amor compassivo, que se expressa não em dar o supérfluo, mas fazer-se presença junto àqueles que mais precisam.

 

O jejum como resposta austera a um mundo que constantemente excita os apetites.

 

Conversão como saída da acomodação, deslocando-se em direção a uma vida mais comprometida com a justiça evangélica, imitando o modo de ser e de agir de Jesus.

 

Jesus nos convida a praticar as disciplinas espirituais da oração, do jejum e da esmola. Soa estranho falar de “disciplinas” em pleno séc. XXI.

A palavra “disciplina” vem da mesma raiz de “discípulo”. Poderíamos defini-la como um modo de ser e proceder proposto por um mestre a seu discípulo. Há disciplinas desportivas, artísticas, científicas... A partir da ótica cristã, ser discípulo de Jesus é segui-lo, escutá-lo, amá-lo e viver as “disciplinas” que Ele propõe.

 

As disciplinas quaresmais são uma oportunidade privilegiada para celebrar o amor de Deus. Para poder agradecer seu amor, queremos ser mais livres, mais justos, mais amorosos.

 

Nesta perspectiva, as três disciplinas espirituais da Quaresma (oração, jejum e esmola) encontram sua relação com as três dimensões do amor: a Deus, ao próximo e a si mesmo.

 

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