“Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo”... (Jo 2,21
O evangelista João, no relato da expulsão dos “vendilhões do Templo”, revela que os conflitos maiores vividos por Jesus se deram no campo religioso; e isso esteve presente já no início de sua vida pública. Com seu gesto Jesus atinge o poder religioso e arremessa contra o Templo, pois este passou a ser um local de comércio explorador.
O Templo já não é mais a morada de Deus, por isso, Jesus expulsa seus representantes. O Templo, o sacerdócio, a lei, já não são mais mediadores, pois não estão a serviço da vida. Jesus rejeitou o Templo por ser improdutivo e manipulador. Por isso, Jesus não propõe sua restauração, mas seu término. Ele colocou o ser humano no centro, e diz “NÃO” a uma religião fundada na Lei e no culto externo; Deus será adorado em “espírito e em verdade” e não depende de “espaços sagrados” para manifestar sua presença providente.
Os fariseus e sacerdotes queriam um Deus e um Templo que não se contaminassem com os deserdados desta terra. Não queriam um Templo que fosse a casa dos impuros, dos abatidos e excluídos, dos encurvados e oprimidos, dos leprosos, cegos e coxos... A partir de agora, o encontro com o Pai e com os outros não se realiza no Templo, mas nas casas abertas, nas ruas e estradas, onde todos têm acesso.
Jesus não inicia uma nova religião, mas uma nova maneira de viver e de se relacionar com o Pai, superando o medo do castigo e confiando uns nos outros.
Segundo, Jesus começa sua vida pública denunciando o “deus” apresentado pelos dirigentes religiosos do Templo. Tal denúncia desestabilizou o sistema religioso sobre o qual a instituição sacerdotal se sustentava. Jesus compreendeu que era preciso desmontar o “ídolo” que legitimava o poder autoritário daqueles que oprimiam o povo indefeso. Deus era tão desconcertante como aquele Nazareno que eles tinham diante de si.
Jesus transcende todas as religiões quando propõe uma maneira nova dos seres humanos se relacionarem com o Transcendente e entre si. O “ser humano” é agora o centro desse culto, que consiste no serviço aos outros. Não é mais a Lei que impera, mas o amor.
O Deus que Jesus revela não é propriedade de nenhuma religião, porque Ele se revela no amor mútuo e na entrega da própria vida.
“Mas Ele falava do templo de seu corpo”. Este é o verdadeiro Templo de Deus: o próprio “corpo” de Jesus, e o de todos os homens e mulheres. Este é o Templo, o “corpo messiânico”, o corpo da vida solidária de homens e mulheres que se escutam e se ajudam, se amam e se animam mutuamente. Jesus veio estabelecer um Templo Novo, pois Ele é o verdadeiro construtor dessa nova humanidade. Nosso próprio corpo, “morada sagrada” da Trindade.
Costumamos distinguir entre sagrado e profano. Dentro do templo está o “sagrado” e fora dele o “profano”. Agora não será mais assim. A última página da Bíblia afirma que na Jerusalém celeste “não se vê nenhum templo” (Ap 21,22).
Será esta imagem do futuro uma crítica do presente? Deus está em todos os lugares, e sua presença providente envolve tudo e todos.
Jesus nos impulsiona a viver como Ele. Essa é a verdadeira espiritualidade: deixar-nos conduzir pelo Espírito, no grande “templo da vida”: lugar do verdadeiro culto que se faz visível na compaixão solidária.
Hoje, os “templos” estão cada vez mais vazios; o máximo que fazemos é admirar as grandes obras de arte de um passado glorioso. Mas, ao mesmo tempo, vamos amadurecendo a consciência de que os verdadeiros templos são nossos corpos.
Não se trata de restaurar o “templo-espaço” com todas as suas implicações, mas de voltar às origens desse “movimento itinerante” que Jesus começou pelas aldeias da Galileia, onde um pequeno grupo reunia-se nas casas e partilhavam pão e vida.
O “templo” não é um edifício de pedra, mas a vida inspirada pelo Espírito. O verdadeiro culto que agrada a Deus é nossa relação filial com Ele, e que isso tem consequências concretas no modo como nos relacionamos com os outros.
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