Três modos de olhar...



Ken Wilber num dos seus livros fala dos três olhos do conhecimentoo da carne (olhar empírico e só percebe o mundo externo na sua realidade nua e crua. Mundo do pré-simbólico), o da mente (Supera o olhar carnal e percebe os pensamentos, as emoções, a fantasia e a razão. É o mundo do simbólico) e o da contemplação (supera o carnal e o mental. É transracional e místico. É o mundo do trans-simbólico. Segundo Wilber o conhecimento espiritual é o mais direto, definido e claro; transcende a toda conceitualização). O primeiro, conhece a realidade externa e sua evidente manifestação; o segundo, o da razão, adquire melhor conhecimento pela filosofia, pela lógica e pela atividade mental; o terceiro, vai além dos sentidos e da razão, permitindo o acesso às realidades mais profundas e transcendentes. 

 

Todos temos esses três olhares, mas acabamos optando por um deles ao longo da vida. Cada olhar enxerga o seu próprio mundo e também o anterior, mas não o que está por cima. Por isso, o olhar contemplativo enxerga os outros dois (o carnal e o mental), mas não é compreendido por eles. Evidentemente, os dois primeiros olhares não enxergam tudo. Para enxergar com o terceiro olho, o espiritual, se requer maior sensibilidade e espiritualidade; chegar a um estado interior profundo e grande, em comunhão com tudo e todos, onde a realidade adquire maior significado e sentido. O um se faz parte do todo e o todo se faz presente no um. 

 

São Paulo diz algo semelhante: “Nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, a fim de conhecermos os dons da graça de Deus. E não falamos deles na linguagem da sabedoria humana, mas na que é ensinada pelo Espírito, exprimindo o espiritual em termos espirituais. O homem natural não aceita o que vem do Espírito de Deus. Para ele, é uma loucura, ele não o pode conhecer, pois isto se julga espiritualmente. O homem espiritual julga tudo e não é julgado por ninguém” (1 Cor 2,12-15) 

 

O olho do Espírito. Para acolher e compreender é preciso ir além da realidade e entrar no mais fundo do ser do outro. Toda realidade é como um iceberg: esconde mais do que revela. A mesma ciência não chega ao fundo das questões. Quanto mais estuda, mas compreende que enxerga pouco. Fechar os olhos, abrir o coração e amar talvez seja o melhor caminho para a fraternidade universal. O mistério faz parte da vida, por isso os artistas e os místicos são os que melhor sabem expressa-lo.


Este olhar do Espírito é a forma mais aguda da sensibilidade da sagacidade humana; do entendimento e do amor unidos. É o `ser contemplativo´ inaciano. Frequentemente ficamos aquém das nossas possibilidades no torpor da negligência, do descuido e da desatenção. A vida perde, desse modo, sua graça, e seu melhor sentido. É preciso acordar, dar-se nota de algo maior, misterioso e belo, envolvendo tudo e todos. O `olho do Espírito´ é o que precisamos, pois contempla não só a realidade, mas sobre tudo o amor e a beleza que a vida contem. 

Uma pergunta: com qual olhar (carnal, mental, espiritual) você costuma se ver e ver  realidade?


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