10. José na história de salvação...




Jesus é referido nos Evangelhos como «filho de José» (Lc 3,23; 4,22; Jo 1,45; 6,42) e «filho do  carpinteiro» (Mt 13,55; Mc 6,3). Os Evangelistas Mateus e Lucas, ao narrarem a infância de Jesus, dão espaço ao papel de José. Ambos compõem uma «genealogia» para realçar a historicidade de Jesus. Mateus, dirigindo-se sobretudo aos judeus-cristãos, parte de Abraão e chega a José, definido como «o esposo de Maria, de quem nasceu Jesus, que se chama Cristo» (1,16). Lucas, por sua vez, remonta até Adão, começando diretamente por Jesus, que «era filho de José», mas especifica: «como se supunha» (3,33). 


Ambos os Evangelistas apresentam José não como o pai biológico, mas como o pai de Jesus a pleno título. Jesus cumpre a história da aliança e da salvação entre Deus e o homem. Para Mateus esta história começa com Abraãopara Lucas com a própria origem da humanidade, isto é, com Adão.


O evangelista Mateus ajuda-nos a compreender que a figura de José, embora aparentemente marginal, discreta, representa antes de tudo um elemento central na história da salvação. José vive o seu protagonismo sem nunca querer apoderar-se da cena. Se pensarmos nisto, «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns - habitualmente esquecidas - que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas […] Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos, e com gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! 


Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos» (Carta ap. Patris corde, 1). Assim, todos podem encontrar em São José, o homem que passa despercebido, o homem da presença diária, discreta e escondida. Todos aqueles que aparentemente estão escondidos têm um protagonismo inigualável na história da salvação. O mundo precisa destes homens e destas mulheres: homens e mulheres na segunda linha, mas que apoiam o desenvolvimento da nossa vida, nos apoiam no caminho da vida.


No Evangelho de Lucas, José aparece como o guardião de Jesus e de Maria. E por esta razão ele é também «o “Guardião da Igreja”, pois a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história. José, continuando a proteger a Igreja continua a proteger o Menino e sua mãe» (ibid., 5). 


Quando Deus pede a Caim que preste contas da vida de Abel, ele responde: «Sou porventura o guarda do meu irmão?» (4, 9). José, com a sua vida, parece querer dizer-nos que somos sempre chamados a sentirmo-nos guardas dos nossos irmãos,.


Uma sociedade que foi definida “líquida”, sem consistência, eu diria: mais do que líquida, gasosaEsta sociedade líquida, gasosa, encontra na história de José uma indicação muito clara da importância dos vínculos humanos. De fato, o Evangelho narra a genealogia de Jesus, não só por uma razão teológica, mas também para recordar a cada um de nós que a nossa vida é constituída por laços que nos precedem e acompanham. O Filho de Deus escolheu o caminho dos vínculos para vir ao mundo, a via da história: não desceu ao mundo magicamente. Como nós!


Estimados irmãos e irmãs, penso em tantas pessoas que lutam para encontrar relacionamentos significativos na sua vida, e por para isso mesmo lutam, sentem-se sozinhas, falta-lhes força e coragem para ir em frente. 

 


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