Mudando de residência...

Acabo de me mudar para Brasília, mas ainda não me sinto em casa. Mudar não é simplesmente entrar num novo espaço, é habitá-lo. E habitar requer muitas coisas, como despedir-se de hábitos familiares e permitir que novos se formem; estranhar os espaços; reprogramar a memória e se acostumar ao esquecimento de pessoas e lugares; redefinir distâncias e proximidades...  Enfim, reaprender a ser gente, reconstituindo o mundo...

Certamente levará tempo para eu me sentir à vontade. Enquanto a casa e eu não entrarmos em sintonia e viver nela como se  for uma dança descontraída e espontânea... Ainda somos estranhos e não nos pertencermos mutuamente, ao ponto de eu poder dizer que ela é minha, que tem a minha cara ou que minha casa sou eu... Enquanto não me sentir tão enraizado nela, que já nem lembre mais como era viver em outro lugar e ela, então, tome os ares da casa de origem... continuarei a sentir-me estranho.

Entendo agora, melhor do que nunca, o que a filosofia existencial quer dizer quando afirma que o homem é um "ser-no-mundo" ou que "eu sou eu e minhas circunstâncias". Sem mundo, não somos ninguém, porque nele moldamos o nosso ser, palavras e nossos gestos... Uma casa é, felizmente, o lugar de lugares conhecidos, da estabilidade, da rotina, da repetição, da mesmice. Um lugar onde voltamos para nós mesmos, depois da dispersão e da diversidade do dia. Um lugar onde nos recolhemos para descansar e sonhar; para cuidar de nós mesmos e conviver com aqueles que mais amamos e escolhemos para parceiros ou companheiros.

A moradia de um homem referenda seu pertencimento à cidade e sua cidadania e, portanto, os direitos e os deveres que ali lhe competem.

A casa é, também, o lugar da vida privada, onde um indivíduo pode expressar-se de modo diferente e talvez mais natural do que aquele que desempenha na vida pública... No interior da casa, uma criança (também um adulto) se experimenta, protegida, para o enfrentamento do mundo. Ensaia com os outros, ou diante do espelho, a fala, o perfil, os modos e as maneiras. Escolhe-se e se esconde. Fica a sós ou sente-se sozinho.

Uma casa é o retrato do seu morador. O tratamento que uma pessoa dá à sua casa coincide com seu modo de levar a vida. Embora nossa casa nos abrigue do mundo, ela é, ao mesmo tempo, o nosso mundo mais próximoPreparar a morada coincide com a preparação da nossa própria vida. Morar coincide com existir. Uma tarefa cujo fim termina com nossa morte. Dizer que acabei de "me" mudar é impreciso. Não estou nem no meio do caminho!...


Acabo de me mudar; meu corpo chegou, mas o coração sempre atrasa um pouco mais. Uma coisa é certa: gostarei também daqui, pois o importante não é onde estamos, mas com quem estamos! 
                                                                                                                                            (Cf. D.Critelli)


Uma pergunta: E você, como você se sente na sua casa?

Um comentário:

  1. Caro Pe. Ramón,
    Seja bem vindo em seu novo lar.
    O senhor descreveu muito bem a dificuldade que é "chegar" e poder dizer " meu lar" e o quanto o local em que moramos é importante para nós.
    Mas, saiba que nós, da comunidade do CCB, faremos o possível para que sua estada no CCB seja a melhor possível e o senhor possa se sentir logo " em casa".
    Conte conosco.
    Lylia

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