Minha cirurgia cardíaca... Dois anos atrás!

Na vida há experiências tão significativas que se tornam inesquecíveis!...

Relatório Medico-Hospitalar do Pe. J. Ramon F. de la Cigoña, elaborado pela Ir. Fatima Carvalho ASCJ (AGO/2010).

03/JUL. Tudo começou neste dia, quando o Pe. J. Ramón se dirigia ao Santuário de Santa Rita, em Santa Rita do Sapucaí/MG... faltando apenas 50 metros, ficou sem respiração, sentiu uma forte dor no peito e sentou-se num banquinho da praça, sem entender bem o que acontecia. Era a primeira angina de peito!

09/JUL. Após a missa das 07h00 da manhã, na capela da ETE, o Pe. J. Ramón se dirigiu à rodoviária de Santa Rita do Sapucai/MG para viajar a São Paulo, onde orientaria uns Exercícios Espirituais de 8 dias para as irmãs ASCJ. Passando pela portaria da ETE, pediu ao funcionário Tiago que o ajudasse a levar a mala, pois tamanho era o cansaço e a dor que sentia no peito. Não conseguindo mais caminhar, Tiago pediu carona, para que o padre pudesse chegar à rodoviária, embora faltassem apenas 40 metros e logo telefonou para diversas pessoas da ETE e estas foram na Rodoviária e instaram o Padre Ramón a descer do ônibus, coisa que ele não fez, por não estar ciente do problema. Chegando a Pouso Alegre, o Padre começou a sentir dormência nas pontas dos dedos da mão esquerda e ânsia de vômito... Faltando apenas um minuto para o ônibus deixar a rodoviária, o Padre desceu e telefonou para o Pe. Guy, seu superior, que prontamente veio com a professora/enfermeira Anatália e se dirigiram ao Hospital Santa Paula, onde havia plantão cardiológico. Foram atendidos imediatamente pelo Dr. Luiz Augusto Cardoso, que o internou, até o dia 14/JUL. Diagnóstico: angina pectoris. Era a segunda! 

21, 23 e 24/JUL. Nestes dias repetiram-se novamente as dores e sintomas da Angina, estando na Comunidade da Escola e, caminhando muito menos... Como estava com o “Isordil” no bolso, colocava um comprimido debaixo da língua e voltava, acompanhado por algum funcionário para o seu quarto, como um guerreiro ferido. Agora mal andava e já sentia forte dor no peito, pelo que começou a fazer vida sedentária, esperando fazer os próximos exames...

27/JUL. Cateterismo no Hospital Samuel Libânio, pelo Dr. Alan. O Resultado foi 95% da Aorta esquerda entupida. O Pe. J. Ramón começa a se preparar espiritualmente, tentando fazer a experiência da Terceira Semana dos EE, dizendo: Terei a graça de experimentar na minha carne as dores e, sofrimentos que Jesus experimentou na sua paixão... E é encaminhado para a cirurgia...

19/AGO. O Pe. Guy na missa das 7h. da manhã unge o Pe. J. Ramón e outras pessoas presentes com a Unção dos Enfermos. Pela tarde, o padre é internado no Hospital Universitário Samuel Libânio, de Pouso Alegre/MG, para fazer a cirurgia cardíaca no dia seguinte...

20/AGO. De manhazinha, às 7h, já preparado, banhado e raspado o levaram numa maca para a sala de cirurgia... O Dr. Alexandre Hueb, Dr. Miquelângelo e equipe fazem a cirurgia cardíaca, colocando duas pontes Safenas e uma Mamária... A cirurgia demorou 5 horas e meia... Após a cirurgia, lá pelas 13h30 o levaram para a UTI... 

20 a 23/AGO. A UTI é grande com 12 leitos, distribuídos em 3 salas contíguas. Foi tempo de absoluta dependência de equipamentos, medicamentos e boa vontade daqueles que ali trabalham. A palavra que ele mais usou nestes dias foi obrigado, obrigado, obrigado... A maioria dos pacientes da UTI tinha mais de 50 anos e a do pessoal da enfermagem e demais auxiliares menos de 30... Aqui sofreu muito, não pelas dores da cirurgia, mas pelas consequências dela: falta de ar que se manifestava com um grande chiado e que ele chamava de “minha gataiada” e gazes abdominais que lhe produziam grande mal-estar e dor. Ele me disse, com lágrimas nos olhos, que sentia grande culpa por não ter feito nada, quando outros jesuítas, companheiros dele, passaram por experiência semelhante... É uma experiência muito pesada! dizia.

Na UTI, o paciente é prioridade absoluta:  tudo e todos estão ao seu serviço! Sem esta ajuda, é impossível sobreviver. Muitas pessoas começaram a rezar pela recuperação do Padre...

23/AGO. Pelas 15h00 foi transferido para um quarto com acompanhamento semi-intensivo, onde já se encontrava um senhor que aguardava para ser operado, acompanhado da esposa. A noite foi muito pesada, pois além de ter vomitado 3 vezes, tinha o abdômen muito distendido e sentia muita falta de ar... Ele mantinha soroterapia no cateter central e oxigênioterapia com um cateter nasal, além de um oxímetro de dedo por 24 horas; a perna direita estava enfaixada, pela retirada da safena...

Pela manhã do dia seguinte, pediu ajuda para ir no banheiro, pois estava amarrado aos equipamentos...Mas, como esta ajuda demorou a chegar, ele se borrou todo. E isto aconteceu novamente no dia seguinte. Ele ficava chocado e espantado diante do que lhe acontecia, bem humilhado na frente dos outros...   Bendita terceira semana dos Exercícios!

27/AGO. Após passar o dia um pouco febril, dormiu bem, sendo acordado no meio da noite para comer, por causa do seu baixo nível de glicose... Foi aí que ele me disse: Estava sonhando, que me encontrava numa ilha paradisíaca, quando de repente, lá no horizonte, aconteceu uma explosão nuclear, atômica!... E eu dizia: por favor, nâo façam isso!...

Pela manhã ao acordar me disse: Eu estava no meio de uma guerra!... E este foi uns dos melhores sonhos que eu tive nesses dias! Se estes foram os melhores sonhos, como foram os outros?

Na parte da tarde o professor Ialdo Costa, da ETE, o animou a caminhar um pouco. Apoiando-se no Ialdo, caminhava devagar e, já próximo da porta, se emocionou dizendo: é a primeira vez que saio deste quarto por conta própria!... Para alguns, pequenos gestos são grandes vitórias!

O Pe. J. Ramón pode comungar todos os dias, embora não pudesse rezar “bonitamente” a 3ª Semana dos EE, como ele pretendera, mas apenas sentir os efeitos espantosos e contínuos dela: dor, humilhações, pesadelos...  

28/AGO. Novamente acordou num estado febril. Pela tarde, caminhou mais um pouco...

31/AGO. Enquanto estava sentado na poltrona esperando a hora do café, teve uma queda de pressão seguida de um desmaio, caindo da sua poltrona. Tudo foi muito rápido, mas logo foi atendido pelos enfermeiros. Disse-me que foi o primeiro “arroubo” que teve na vida, e que S. Teresa era mestra nestas quedas...

1/SET. Às 11h30 lhe dão de alta hospitalar. Volta contente para a Comunidade da ETE, onde se recupera... Não atende telefone, para não se cansar. No dia seguinte, começa os exercícios com uma fioterapeuta, Natália Duarte, professora da ETE. À noite um enfermeito, Odair, o ajuda para ir no banheiro e de manhazinha para se vestir... E assim por 2 meses...

13/SET. Na véspera teve uma crise de ar a noite toda. Avisado o médico foi levado para Pouso Alegre, ao Hospital S. Paula. Após alguns exames (Raios X do pulmão, tomografia computadorizada e ultra-som) o próprio Dr. Luiz Augusto lhe fez uma punção e extraiu 1 litro e 100 ml. de líquidos (sangue e água!) do pulmão direito. Isso foi às 23h00. Depois, o levaram de novo para a Comunidade...

17/SET. Foi levado novamente ao hospital S. Paula, onde lhe fizeran o “Dopper” na perna direita que, ainda está bastante inchada... Define-se o quadro de mal-estar que ele experimenta (falta de ar, insônia...) como “síndrome de Dresller”, pericárdio e pulmão auto-imunes, soltam líquidos que se acumulam no pulmão. Começa o tratamento com “Meticorten” (cortisona).

Remédios para o resto da vida: Selozok 100 mg (succinato de metoprolol), Somalgin Cardio 100 mg (ácido acetilisalicílico) e Atorvastatina cálcica 10 mg.

19/SET. Neste ambiente de fragilidade e de recuperação o Pe. Ramón celebra com simplicidade seu jubileu de vida consagrada: 50 anos de caminhada na Companhia de Jesus. Na missa, ele se emocionou e chorou...

Deus é Pai. Deus é bom! Deus é santo. Deus é amor!... Ele cantou silenciosamente essa estrofe muitas vezes, durante o tempo que esteve hospitalizado e durante a sua recuperação...

Deus seja louvado! 

NB. Olhando para o que passei, tenho certeza que o Senhor me visitou em S. Rita do Sapucaí, como aconteceu com Abraão, quando ele estava sob o carvalho de Mambré, em Hebrón. E estas visitas são sempre marcantes e inesquecíveis! 

Bendito seja o Senhor para sempre!  

2 comentários:

  1. Pe.Ramon,

    Essa sua partilha mostra o quanto somos frágeis, humanos e o quanto precisamos da ajuda uns dos outros. E fazemos melhor esse exercício do amor,da entrega e abandono nas mãos do Pai quando temos a presença fraterna de tantos e tantas que viveram ou vivem alguma dor e "apesar de..." se doam.Demos Graças a Deus pela sua cura e por estar conosco!
    Sandra Márcia

    ResponderExcluir
  2. P. RAMÓN,
    COM SUA EXPERIENCIA, CONSIGO PERCEBER O QUANTO SOMOS PEQUENOS E FRÁGEIS. E O QUANTO SOMOS IMENSAMENTE AMADOS POR DEUS.LUOVADO SEJA EM SUA VIDA E NA VIDA DE CADA UM DE NÓS. APROVEITE MAIS AINDA A VIDA QUE ELE TE DÁ. PARABÉNS POR ESTA EXPERIENCIA MARCANTE. QUE SUA VIDA SEJA CADA VEZ MAIS ABANDONO NAS MÃOS DO PAI.
    UM ABRAÇO. LUIZA CANGUSSÚ

    ResponderExcluir