José Batista Sobrinho, Coordenador Nacional da CVX e da ACVM...

Se todos fóssemos assim...
Apresentadora de TV no programa de Edney Silvestre: Um imigrante nordestino dá as mãos a pessoas que não tiveram a mesma sorte que ele quando chegaram ao Rio em busca de emprego. José Batista Sobrinho criou uma associação em São Cristóvão, na Associação de Comunidades de Vida Mariana, onde os mendigos vão jantar e encontram orientação, assistência e carinho. A vida e o desprendimento deste campeão da solidariedade é a história que você vai conhecer agora... 

Edney: Nesta cidade tão bonita (Rio de Janeiro), a pobreza e a indiferença criam manchas. Uma dessas manchas é o grande número de crianças e adultos que vivem nas ruas. Eles são o espelho de tanta coisa errada que as autoridades não conseguem resolver, mas existem maneiras de ajudar estas pessoas, de dar meios para que elas possam mudar sua situação... É o que faz, há mais de 30 anos, o nosso entrevistado no Bate-Papo de hoje: José Batista Sobrinho.

Muita gente acredita que as pessoas que vivem nas ruas, debaixo das marquises, são vagabundos. Gente que não quer fazer nada e que estão lá por causa disso. Sabemos que isso não é verdade e eu queria que o senhor falasse sobre isso.

Sobrinho: Eu tenho certeza de que muitos estão na rua porque não têm condição de ter uma vida mais decente. Mas se lhes oferecermos alguma condição, eles saem da rua, como fizeram alguns ajudados por nós. Outros voltaram para as suas cidades de origem...

Edney: Muitos dos que vivem na rua vieram de outras cidades em busca de trabalho.... 

Sobrinho: Provavelmente a maioria, talvez até 90% vêm de outros estados...

Edney: Estão assim porque estão desempregados, não têm trabalho; e não têm trabalho porque são analfabetos. Vocês estão tentando modificar isso? 

Sobrinho: Aos sábados temos um curso de alfabetização...

Edney: Para adultos?

Sobrinho: Pra adultos. E depois que eles são alfabetizados, sentem-se mais livres e dizem: agora eu sei ir e vir sem perguntar a ninguém...

Edney: Toda semana, o seu grupo oferece um jantar, pelo menos uma vez por semana a essa população de rua e assim tem alguma coisa pra comer... Chegam a ser quantos por noite?

Sobrinho: Toda quarta-feira jantam, lá em casa (sede da ACVM) uma média de 400 moradores de rua. Fazemos uma média de 500 refeições que são servidas com eles sentados à mesa. É muita gente! E o que mais gostam no jantar é da água gelada... A maioria não tem um copo de água gelada para tomar... 

Edney: O senhor veio de São José do Egito, alto sertão de Pernambuco... 

Sobrinho: Eu vim pra o Rio de Janeiro em 1959, à procura de emprego. De ônibus, estrada de terra, gastei 7 dias para chegar aqui...

Edney: Com dinheiro no bolso? 

Sobrinho: Cheguei aqui, fiquei na casa de uns parentes. Eu não tinha um tostão! No dia seguinte, comecei a trabalhar numa casa de materiais de construção, distribuindo e entregando material. Do ano 1952 a 58 tivemos seca no Nordeste, na nossa região. Meu pai perdeu tudo... Eu tinha que sair da minha cidade, para ajudar a sustentar a minha família. 

Edney: Quantos outros milhões de brasileiros, de nordestinos, chegaram a fazer a mesma coisa...

Sobrinho: É... Foi uma das coisas que mais me fizeram sofrer na minha vida... Aquelas estradas quando eu vinha!... Eu ainda consegui vir de ônibus, mas milhares dos meus conterrâneos vieram de pau-de-arara, caminhões sem a mínima condição, para chegar no Rio de Janeiro ou São Paulo. Meus pais nos ensinaram a partilhar a vida com os outros...

Edney: Mesmo tendo pouco?

Sobrinho: Mesmo tendo pouco. É um sentimento que eu tenho, pois não posso ser feliz, não consigo dormir tranquilo se souber que tem alguém passando fome... Quem tem um pouco de alimento, então pode pensar em estudar, em ter alguma dignidade. Mas, se você não tem...

Edney: Conta pra nós justamente isso, esses meios que vocês dão para essas pessoas saírem dessa condição de extrema pobreza...

Sobrinho: Outro dia um senhor, 60 anos, foi lá em casa buscar a sua carteira de identidade... ele pediu nosso endereço para poder tirar a carteira de identidade. Quando ele a recebeu, se emocionou e começou a chorar. Ele chorava por que recebera uma identidade!... E disse: a partir de agora eu começo a existir

Edney: Muita gente boa está na rua porque não teve ninguém para lhe estender uma mão amiga e acreditar neles... 

Sobrinho: Só através de muito amor, só quem tem amor no coração é capaz de olhar para o irmão e ver que ele precisa ter essa dignidade. Muitos passam pela rua e vêem mendigos, mas pensam que eles estão ali porque são cachaceiros ou malfeitores. A gente encontra histórias fantásticas!... 

Edney: Muito obrigado, muita sorte para o senhor. Muita sorte pro povo da rua... Já veio por aqui muitas vezes?

Sobrinho: Já participei várias vezes de missas aqui... 

Edney: O senhor sempre foi católico? 

Sobrinho: Sempre. Eu tive uma educação católica...

                                                                *          *          *          *
Poderíamos contar muitas outras coisas positivas do nosso amigo Sobrinho... Sua casa está sempre aberta, assim como a sua mesa e o seu coração... Você, que o conhece, gostaria de acrescentar e narrar outras histórias dele?

9 comentários:

  1. Em uma quarta-feira estava faltando alguns mantimentos para o jantar, então ele parou naquela mesa da cozinha e se perguntou: "como vamos conseguir o que falta para o jantar?"... depois de algum tempo o telefone toca. Era um antigo amigo dizendo que queria doar uma quantia de dinheiro para ACVM e não sabia como! no mesmo momento o Sobrinho contou a necessidade e o amigo enviou tudo que faltava para a ACVM.

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  2. Viajando, passei uma noite em sua casa. Deu-me um quarto e disse-me: pode ser que escute uma criança chorar no meio da noite... Como assim? É que um casal de mendigos, dias atrás, na frente da casa a mulher começou a dar a luz... Levamos para o hospital... nasceu um menino... Ao registrá-lo, pediram o endereço e eles falaram que não tinham... O estado brasileiro não permite que um criança fique na rua e a queriam tirar dos pais para levar a uma creche... Começaram a chorar... Então eu dei meu endereço e eles estão aí...
    Meu amigo, sem alarde, mostrava que era: um homem bom, muito bom!

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  3. Sobrinho: obrero en el Reino de Dios y un santo en lo cotidiano. En todo amar y servir!

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  4. Sobrinho: Se todos fossem iguais a você, que maravilha viver!

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  5. Posso ouvi-lo falar: como dormir sabendo que meu irmão está com frio... Minha lógica não compreende tanto amor...

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  6. ei Ramón, é só coincidência falar do Sobrinho nessas vésperas de todos os santos?

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  7. Sobrinho, você sem dúvida me faz crer que faço pelo Reino... Obrigado!

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  8. P. RAMÓN,CONHEÇO O SOBRINHO DESDE CRIANÇA E TENHO TANTA HISTÓRIA, QUE NÃO CABERIA AQUI.
    TENHO CERTEZA DE QUE É UM SANTO NO MUNDO DE HOJE. SABE ESCUTAR A TODOS, CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS. E A TODOS TEM O AMOR DE CRISTO PARA DAR. RECEBE DE TODOS A MESMA ADMIRAÇÃO. É NOSSO PAI NA ACVM.DÁ PUXÃO DE ORELHA, MAS TAMBÉM ELOGIA, CADA UM NA OCASIÃO CERTA.
    SEU APOIO AOS NECESSITADOS É SEM PALAVRAS.
    É UM HOMEM DE VERDADE NO MUNDO DE HOJE.
    UM ABRAÇO. LUIZA DOS SANTOS CANGUSSÚ

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  9. Olá Pe. Ramon, falar do Sobrinho!!! Não saberia escolher as palavras para falar, tudo é muito pouco quando se trata do Sobrinho. Fui evangelizada pela ACVM e foi a melhor coisa que me aconteceu. Trabalhei com ele durante alguns anos e nunca vi uma pessoa tão despojada de tudo, tão amorosa e generosa como ele.
    Abraçosssssss

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