O Arcanjo... na Vila do Pequenino Jesus!

A estrela foi se arrastando no chão até que alguém a viu...
Alguns sábados atrás, a Vila do Pequenino Jesus estava muito excitada com a chegada de um novo acolhido que tem nome de Arcanjo. Todos apressavam-me: Já viu? Já foi conhecer? Vá logo ao quarto, o novo acolhido é acamado...

O Arcanjo é um rapagão grande, bonito, muito simpático.
 Foi, também, um rapagão perfeito, toda a vida pela frente, até ter sido atropelado na faixa de pedestres, aos 17 anos de idade, e nela abandonado. Era só uma criança!

Agora ele tem família, muito carente de meios materiais, mas rica em afeto
, em cuidado, em presença, em coragem. Desde que o nosso Arcanjo chegou, volta e meia seus quatro irmãos aparecem para fazer companhia, contar as novidades de casa, cantar juntos... Cantar, pois nosso Arcanjo já não pode falar, nem andar, nem fazer qualquer movimento. Mas, é o primeiro a seguir, de boca fechada, embora, as notas de qualquer canção que escute no rádio, na TV ou que qualquer distraído comece a cantarolar perto dele.

O povo do Arcanjo causava-me curiosidade: A pobreza, a doença, a tragédia, e eles tão luminosos e fortes!... Uma família especial, sem dúvida. Diferente, bem diferente!

Então, outro sábado desses, a mãe do Arcanjo veio visitá-lo. Pequenina, magrinha, com grandes olhos de pantera, ora verdes, ora mel, resplandecendo força e determinação naquele corpinho tão pouco... Pantera mesmo!

Em nossa primeira conversa não veio o esperado lamento, as lágrimas tão cabíveis. E sim a alegria pela vida salva do filho, a gratidão pelos cuidados que recebia na Vila do Pequenino Jesus. Era um Magnificat.
De profissão, manicure. Estranhei de imediato uma manicure fora do trabalho num sábado, sabidamente o dia mais rendoso para essas profissionais, dia em que a maioria das mulheres pode frequentar um salão... É por isso que nem todo sábado venho ver meu menino...

Deixei-os a sós, mas de longe observava como penteava os cabelos do filho, como limpava-lhe a boca, alimentava-o... Quanto carinho, meu Deus!

Então, terminados os cuidados maternos dados ao Arcanjo, essa mulher tirou da sacola sua cestinha de manicure. Cestinha pobre como ela, poucos e já gastos produtos. Vestiu, em seguida, seu avental de trabalho branco, já gasto. E, cabeça baixa, leve sorriso nos lábios, uma por uma, caprichosamente, fez as unhas de todas as nossas acolhidas mulheres!

A mãe de um Arcanjo é uma madona com olhos de pantera!

Dentro de mim, um silêncio imóvel de reverência. Aqui e ali ecoavam palavras de santos que a Madona fazia aflorar... Quando, Senhor, quando? Quando? Até quando? Estou cansada de não ser tua. Estou cansada de não ser Tu!... (Marta Vieira/ABR/2013)

NB.
 A Vila do Pequenino Jesus (SHIS – Ql 26, chácara 27 – Brasília. Fone: 61 3526-0506) é uma casa de acolhimento para pessoas especiais... e vive da ajuda dos voluntários!

2 comentários:

  1. O olhar de Cristo! O olhar de Amor, cumplicidade , unidade , harmonia...(Regina Carvalho).

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  2. Uma bela tradução de uma obra divina que só se mantém pela força de pessoas que carregam Deus dentro de si.
    Que Deus nos ilumine!
    Lylia

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