9. O amor na vida adulta...

Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz... (M. de Barros)
É próprio dos humanos crescer física, emocional e espiritualmente. Embora a a própria vida nos ajude nesta empreitada, alguns não a realizam de modo satisfatório, pois carregam no seu bojo familiar conflitos internos profundos, complicando seus relacionamentos interpessoais.

Paramos de crescer quando nos fechamos em nós mesmos. Conheço adultos que estão sempre à beira de um ataque de nervos!

Alguns pensam que a maturidade chega pelos 25 anos de idade, quando já haveria uma estabilidade emocional e profissional consistente. Contudo, sabemos que não é a idade que nos faz ser adulto, mas a capacidade de acolher e de se doar. O que é, pois, ser adulto?

Em muitas tradições culturais o ser adulto significa ter uma profissão e uma família constituída. Para estes, o importante não é o desenvolvimento afetivo, mas mostrar aos outros uma prole e um bom emprego. Fidelidade, responsabilidade e honestidade ficam de lado. Este modelo, evidentemente, entrou em crise. Há pessoas com mais de 40 anos de idade e com uma boa profissão que são irresponsáveis, egoístas e promíscuos.

Sabemos que os ritmos de crescimento não pararam na adolescência. Acolher e ajudar gratuitamente são sinais de maturidade emocional.

Alguns indicadores permitem avaliar se estamos ou não em processo de crescimento. A idade adulta se caracteriza principalmente pela mutualidade emocional. O narcisismo juvenil não pode se perpetuar! A reciprocidade emocional com pessoas na mesma fase da vida, é um bom sinal de crescimento. Pensar só em si mesmo é fixar-se em etapas anteriores e não se desenvolver harmonicamente.

O amor abre o coração das pessoas. O adulto vai além das suas próprias necessidades. Partilhar a existência, o que se tem e o que se é, é sinal de maturidade. A reciprocidade emocional cresce com a transparência. Mentira e prepotência sinalizam imaturidade emocional, assim como a traição e o ciúme doentio destroem todo tipo de relacionamento.

Aponto algumas características próprias do adulto:

  • Conhecimento adequado de si. A sua autopercepção corresponde ao que os outros acham de você?
  • Empatia. Você consegue ter relacionamentos positivos com outras pessoas? Sente a dor, a alegria e as preocupações daqueles que o cercam?
  • Sensibilidade interpessoal. Percebe as necessidades dos outros e as atende adequadamente?
  • Confiança. Você é capaz de assumir riscos em favor de outras pessoas?
  • Igualdade. A reciprocidade e a cumplicidade valorizam as pessoas. Há equilíbrio ou desequilíbrio de poder nos seus relacionamentos?
  • Autorrevelação. Sem intimidade partilhada não há crescimento. Você comparte com espontaneidade seus sentimentos?
O crescimento humano precisa sempre dos outros. Se a infância e adolescência foram saudáveis, conseguiremos ter nesta etapa da vida, um nível adequado de reciprocidade nas relações interpessoais.

Não há um momento no qual possamos dizer: Pronto! Agora não preciso de mais ninguém, pois sou maduro!... Todos estamos em processo de recuperação e de sanação, até chegarmos à plenitude do Absoluto. Neste percurso, ninguém escapa de possíveis medos, culpas ou tropeços.

Nos adultos há também retrocessos, pois nem sempre somos maduros, efetiva e afetivamente, o tempo todo. Há dias em que estacamos em formas primárias de imaturidade física ou emocional. Ciúmes possessivos, agressões verbais, pirraças emocionais e outras formas inadequadas de se relacionar podem entorpecer o ritmo de crescimento. Às vezes, o desgaste é tal que não permite uma convivência respeitosa. A integração humana requer dedicação quase artesanal!

Nossas atitudes revelam o grau de maturidade que temos. Evidentemente, a infidelidade e a promiscuidade sentimental revelam imaturidade emocional.

Há níveis de integração na idade adulta revelados no saber falar sobre a própria história sexual. Na fase adulta, as pessoas se relacionam com carinho, mesmo com as limitações existenciais no campo da sexualidade.

É possível a integração psicossexual sem a expressão genital? A genitalidade é a forma mais comum de expressão sexual, mas não é uma condição sine qua non para chegar à integração psicossexual. A castidade pelo Reino dos céus abre também as pessoas para a doação, onde o amor é concretizado em forma de serviço. Jesus foi celibatário e como Ele muitos homens e mulheres acalentam esse sonho com inusitado fervor. Há pessoas que escolhem a vida celibatária; outras, talvez mais numerosas, o fazem obrigadas pelas circunstâncias da vida (divorciados, separados, viúvos, solteiros...). Seria presunçoso supor que essas pessoas não possuem integração psicossexual!

O ato sexual é mais do que corpos entrelaçados; é, também, “eus” profundos partilhados. O ato sexual expressa mútua doação e mútua aceitação, para sempre. Sexo sem amor revela sentimentos infantis. A verdade e o amor revelam sempre maturidade.

Não é o amor que sustenta um relacionamento, mas o modo de se relacionar que sustenta o amor.

Uma pergunta: Suas fantasias revelam maturidade ou egoísmo?

Um comentário:

  1. Coisa complicada essa de se tornar adulto, Pe Ramón. Estou com 23 anos e não me sinto adequadamente madura para a minha idade, justamente pela fixação em traumas juvenis e infantis. Problemas familiares e do processo da adolescência que vêm à tona durante os primeiros percalços da vida adulta. É difícil estar no mundo dos adultos sem compreender bem sua própria identidade. A busca por tentar compreender o seu íntimo às vezes rouba a cena e atrapalha o bom entendimento e relacionamento com o outro.

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