12. Espiritualidade e sexualidade...

Gosto do feitiço das palavras e dos gestos...

E os chamou de amigos!... “Amigo” é a palavra que o apóstolo João usou para descrever o relacionamento de Jesus com seus discípulos. Amigo é mais que companheiro ou sócio; expressa laços de afeto. Jesus se relacionou com seus discípulos e discípulas com laços de carinho. Eles eram mais do que “companheiros” de trabalho ou de caminhada. Eles sentiam que Jesus não só os valorizava e apreciava, mas os tinha também no seu coração.

Eu lhes dei a conhecer tudo... disse Jesus. O que significa esse “tudo”? Verdades divinas, propostas humanas, carinho e respeito. Você já percebeu que só cremos quando amamos e só amamos quando cremos? Os discípulos creram em Jesus, porque o amavam. Desse modo, cresciam em autoestima e experimentavam a salvação! Salvação é vida plena.

Querer unir estas duas dimensões, espiritualidade e sexualidade,  pode parecer estranho e até heterodoxo. Alguns acham que a “espiritualidade” é para anjos, e a “sexualidade” para os humanos.

A tradição judaico-cristã afirma a unicidade do ser humano e não o entende sem aquele “sopro” divino, experimentado no início da Criação. “Ruach” é sopro e Espírito! Sexualidade e espiritualidade nos acompanham desde o início da nossa história, um milhão de anos atrás.

O texto sagrado diz que Deus criou o ser humano à sua imagem... e os criou-os macho e fêmea" (Gn 1, 27). São “humanos”, porque vem do “húmus” da terra, e ao mesmo tempo são parecidos com Deus. Na tradição bíblica mais antiga, a javista (950 aC), não há conflitos entre sexualidade e espiritualidade. Os “pré-conceitos” são posteriores e culturais. Lembremos que o matrimônio, na tradição católica é um “sacramento”; presença e bênção de Deus no relacionamento sexual. Quem ama está muito perto de Deus. 

Para alguns, o relacionamento íntimo significa apenas “tirar a roupa” e fazer sexo. Estes esquecem que a intimidade só acontece depois de algum tempo, quando se sai do seu próprio amor, querer e interesse. A “nudez física” terá sentido quando antes se despojar de toda mentira e egoísmo. Por isso, intimidade e espiritualidade não se expressam adequadamente em relacionamentos promíscuos ou fortuitos.

Intimidade (intimus = dentro de) é uma conduta amorosa e responsável que se manifesta pela auto-revelação do mais profundo da pessoa e se constrói com educação e amor. Atitudes que ajudam e dão consistência à intimidade? “Desculpe!... Eu não sabia!... Preciso de você!... Fique comigo!... Perdoe-me!... Tenho raiva... Você significa muito para mim!...” A verdadeira intimidade inclui sempre respeito e verdade. Na mentira não há intimidade, mas abuso e violência.

Há um princípio muito claro: As pessoas se reúnem quando se amam; só o amor cria família e comunidade. Sabemos que há vários tipos de “famílias” e que o tempo ajuda a estruturá-las ou desestruturá-las. Seja como for, todas devem ser ajudadas e respeitadas.

Quem teve a sorte de chegar ao coração de outra pessoa, provavelmente também encontrou Deus. Só o amor tira da solidão e cria verdadeira comunhão.

Uma pergunta: Você já partilhou seus sentimentos mais profundos com alguém?

5 comentários:

  1. Gostei muito dessa matéria! Ainda não tinha visto uma explicação tão clara sobre esse assunto.
    Parabéns!

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  2. Boa tarde, gostei muito deste texto. Fala da importância de tratarmos com cuidado e amor de um tema que anda tão banalizado, tão descartável, como a sexualidade. Parabéns pela visão clara e amorosa sobre o tema, e ao mesmo tempo acolhedora. Confesso que sempre me senti alheia à busca pelo prazer a todo custo, sempre valorizei o bem maior, e claramente a sexualidade está incluída nesta perspectiva de vida. Como disse o Papa Francisco em sua vida à JMJ, devemos abrir mão da cultura do provisório. Vivamos com amor! Obrigada

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  3. Estou aprendendo muito com seus textos. Não deixo de ler nenhuma publicação. Obrigada por compartilhar seu conhecimento conosco.

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  4. "Gracias Padre por mostrar la mirada desde la fe, hoy en día estos temas se miran de una manera tan vana, maliciosa.
    Un niño desde pequeño/a, (no todos, depende de la Familia) demuestra en su mirada y palabras un sentido impuro, de burla sarcástica; porque su medio ambiente, los medios de comunicación y todo; han deformado, lo puro y santo es signo de burla y mofa...
    La sexualidad y la espiritualidad son propias del ser humano, no tiene por qué significar burla o rechazo.
    Hace falta que personas preparadas, culta y espiritual como Usted, forme esta Sociedad nuestra tan ensuciada de vicios y males y tan carente de valores y bondad. Gracias por compartir".

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  5. Meu amigo querido, você faz bem em lembrar que no AT não há separação radical entre espiritualidade e sexualidade - como, por exemplo, é anunciado que uma virgem conceberá (na verdade, a palavra que traduzimos por "virgem" significa "uma mulher que não se casou"... notemos que não é exatamente a mesma coisa). Enfim, quem trouxe a separação entre espiritualidade e sexualidade? Ora, Paulo... Curiosamente, até onde sabemos, ele não foi chamado de "amigo" por Jesus (pelo menos não há relatos disso na Bíblia). Bem, daí alguns teólogos vão dizer que Paulo reproduziu nas suas cartas a moralidade da época - mas considerando que, antes da conversão, ele era judeu fariseu, a moralidade paulina é pautada pelo AT - aquele mesmo onde não há separação radical entre espiritualidade e sexualidade... Bem, essa é uma conta que não fecha.

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