A "experiência" como origem de tudo...

Ando muito completo de vazios... (M. de Barros)
Inácio de Loyola fez, aos 30 anos de sua vida, uma experiência profunda e pessoal de encontro com Deus. Tudo o que até então tinha vivenciado nos seus encontros (e desencontros!) humanos (aventuras, fatos, acontecimentos positivos ou negativos...) começa a ter outro significado. A experiência do Deus Absoluto unifica-o interiormente, de tal modo, que fará dele um homem novo.

Mas, o que entendemos por "experiência"?

A palavra "experiência" é um conceito polissêmico que encerra diversos sentidos. Será que é a mesma coisa dizer: "hoje, no laboratório, realizamos uma experiência com NaCl e H2O" e "hoje vivemos uma experiência muito intensa do amor de Deus"? A primeira “experiência” diz respeito a tentativas e demonstrações que podem ser realizadas, a toda hora e mecanicamente, em laboratório, bastando apenas ter um pouco de sal e água para poder realizar a eletrólise. Este tipo de “experiência” possui um caráter técnico-prático, mecânico e repetitivo.

A segunda “experiência”, a de Deus, é bem diferente. Ela não pode ser enquadrada dentro dos limites estreitos de um laboratório. Ela não pode ser demonstrada e verificada "cientificamente". Ela é gratuita e não pode ser provocada a bel-prazer, pois envolve a totalidade da pessoa. Não é algo periférico, mas abrangente e totalizante, unificador e integrador de todos os níveis e substratos do ser humano. Este é o significado que tomamos, para entender a “experiência de Deus”.

Aprofundemos um pouco mais no conceito "ex-peri-ência": 
· "EX": preposição derivada do grego; significa movimento para sair de si e "ir para fora". Daí palavras como: Ex-istência, êx-tase, ex-ortação, ex-aluno... 
· "PERI": em torno de, "por todos os lados". Daí palavras como: peri-metro, peri-dérmico, peri-polar, peri-scópio... 
·   "ENCIA": conhecimento profundo.

Toda “experiência” pode ser carnal ou espiritual, dependendo de buscar ou não o seu próprio querer e interesse. Sair de si mesmo é o primeiro passo para amar e se encontrar com os outros ou com o totalmente Outro.  

A "Ex-peri-ência de Deus” é, pois, a resposta que alguém dá à proposta do Senhor. É, certamente, sair de si e olhar além do próprio umbigo.

Deus me empurra para fora de mim!

Uma pergunta: Que tipo de “experiência” você consegue fazer?

Um comentário:

  1. Padre Ramón, muito interessante o que senhor reflete, especialmente o aspecto unitivo e integrador da experiencia com Deus. Teresa de Jesus, espanhola como Inacio e o senhor, sublinha em muitos trechos de sua obra que " só escreve o que vive em experiencia". Diz que o Senhor deseja que nós façamos esta experiencia de Seu Amor, exortando que "exceto se não correspondermos", pois "sua Bondade ja deixa a alma proxima do Cèu, se ela não puser empecilhos". ( Livro da Vida, 15, 2). Que, como diz Inacio, desejemos sentir e saborear esta antesala do paraîso que è a experiencia de Deus! Beatriz

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