Jejuns, abstinências ou o melhor uso da liberdade... (Autobiografia de s. Inácio de Loyola)

Inácio de Loyola continua em Manresa dedicado aos seus Exercícios Espirituais. É verão de 1522 e o clima está agradável. Até onde devem ir as mortificações e quando mudá-las?

Perseverava na abstinência de não comer carne... mas um dia de manhã, de pois de levantar-se, se lhe representou na imaginação carne para comer, com tanta força, como se a visse com os olhos... Veio-lhe ao mesmo tempo uma grande vontade de comê-la... Embora se lembrasse do propósito anterior, determinava que devia comer carne. Contou-o ao seu confessor. Este lhe disse que considerasse se isso não era acaso tentação; mas ele, examinando-o bem, nunca pode duvidar disso (Autob. 27). Não era tentação, mas amadurecimento da liberdade! 

A privação de alimento por motivos religiosos recebe o nome de jejum. Jejum e abstinência são práticas estipuladas pelas religiões, para adquirir maior intimidade com Deus.

A forma como uma pessoa come e bebe expressa muito o seu jeito de ser. Lidamos com os outros como o fazemos com a comida e a bebida. Há pessoas que engolem tudo e nada respeitam nem saboreiam. Outras escolhem instintiva ou conscientemente o melhor da comida e esquecem totalmente dos outros. Inácio de Loyola quis romper, de uma vez por todas, com os hábitos sibaritas vividos na Corte Real de Arévalo, onde imperava o luxo e o prazer.

Os nutricionistas ajudam a reeducar o quê e quanto comer. Inácio percebe que há uma conexão intrínseca e não ordenada entre seus instintos fundamentais. Se os excessos da Corte exacerbaram um dia a sua sexualidade, a oração, o jejum e a abstinência a moderam neste momento.

Fortalecido e agora ordenado, sente-se livre diante de tudo aquilo que antes se impunha. A paz interior e um bom sinal para novas decisões. O amor a Deus transformado em serviço aos outros é bem mais importante do que comer ou não comer carne!

As “santas loucuras” e os exageros fazem parte da história dos santos e do seu aprendizado espiritual! Se não desejamos muito, encontraremos pouco! 

Uma pergunta: O que Deus tem lhe ensinado ultimamente?

3 comentários:

  1. Olá Pe Ramon, Manresa é uma cidade?
    É interessante e faz pensar esta afirmação de que tratamos as pessoas como fazemos com os alimentos e a bebida. Santo Inácio rompeu com os costumes de onde vivia. Quem segue a CRisto é chamado a romper com muitas formas de materialismo, consumismo e egoismo. Um abraço

    ResponderExcluir
  2. Caro Padre Ramon, penso que Santo Inácio queria chamar a atenção para as "afeições desordenadas".
    Sou livre, quando, vivendo o "Princípio e Fundamento", desapego-me de todas as afeições,inclusive dessas ordens medievais, que cumprimos, quase sem consciência.
    A "Indiferença inaciana" compromete-me mais, é assim? Através dela, chego a realizar a vontade de Deus em mim.
    Soube que está nos deixando e...estou triste.
    Grande abraço

    ResponderExcluir
  3. Ótimo texto. A Igreja está a dois mil anos ensinando que devemos fazer jejuns e penitência. Apesar de hoje tais práticas serem muito mal vistas, creio que são as melhores armas para se combater o hedonismo, materialismo, egoísmo e outros males modernos.

    Heitor

    ResponderExcluir