31 DTC: ZAQUEU e o AMOR EXAGERADO... (Pe. A. Palaoro SJ)

 “...hoje preciso ficar em sua casa...” (Lc 19,5)

Os protagonistas da cena, Jesus e Zaqueu, são pessoas completamente diferentes e diametralmente opostas; porém, procuram-se mutuamente.
Ao redor deles, uma multidão desordenada e crítica impede Zaqueu de ver Jesus e ao mesmo tempo murmura contra ele, por estar do lado “errado”, daquele que já estava perdido.

Zaqueu é a uma das poucas pessoas que, nos quatro Evangelhos, toma a iniciativa de encontrar-se com o Mestre gratuitamente: nada tem a dizer e nada tem a pedir, pois não sabe o que deseja de Jesus, nem o que Jesus deseja dele. Com tudo, brota nele a decisão de vê-lo. O texto diz que desejava “ver quem era Jesus”, mas não o conseguia porque era de estatura baixa e havia muitas pessoas em volta do Mestre.

Não foi apenas a quantidade de gente que o impediu de aproximar-se do Senhor, mas a sua condição de pessoa rejeitada pela multidão.

Não faltava segurança econômica e nem social para Zaqueu, mas no fundo era um homem solitário, triste e marginalizado. No seu coração um vazio profundo, que se transformou em desejo atormentador de mudança. Não podia continuar indiferente diante da pessoa de Jesus. O nome e a pessoa de Jesus tiraram o véu que encobria o vazio de seu coração e a solidão na qual se encontrava.

O encontro de ambos aconteceu na estrada, onde ocorrem os acontecimentos do dia-a-dia e a vida transcorre...

Zaqueu não se preocupou com mais nada: nem com a boa imagem nem com o que a multidão pensaria ao vê-lo sobre uma árvore. Esquece a condição de ser um homem rico, “respeitável”, e sobe numa árvore, da qual pensa ver Jesus sem ser visto.

Jesus passa pelo caminho arborizado e vê Zaqueu em seu observatório, e o convida a descer: “Desce depressa, porque hoje preciso ficar em sua casa”.

Não é uma visita, mas a chegada de um amigo. Olham-se e entendem-se. E, nada mais foi como antes!

Mas, o verdadeiro encontro entre os dois se dá em casa, entre as paredes da vida cotidiana. O “Senhor”, como dom gratuito e inesperado, entra na casa e no coração de Zaqueu, à busca de quem estava perdido. Zaqueu se sente renovado e tudo, ao seu redor, lhe parece novo e diferente.

Durante a refeição, não há perguntas, não há conselhos, nem muito menos repreensões, mas apenas uma conversa amigável, sentimentos manifestados, experiências confrontadas. Jesus não pede nada a Zaqueu. Contudo, o vinho novo de Jesus arrebenta os odres velhos de Zaqueu. Ele passa da solidão à partilha, da tristeza à alegria...

Zaqueu não está mais sozinho e nem se sente mais uma pessoa insignificante. Ele descobriu a luz de um olhar e experimentou a ternura de ser procurado e amado.

Zaqueu foi amado “excessivamente” e decide corresponder com a mesma moeda, sem medidas. “Senhor, vou dar a metade dos meus bens aos pobres; e se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais”.

E Jesus: “Hoje, a salvação entrou nesta casa”. 

Ó encontro abençoado que fez partilhar os bens com os outros!...


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