14º DTC: ESTAR NO MUNDO À MANEIRA DE JESUS... (cf. Pe. A. Palaoro sj)

E os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde Ele própria devia ir...  (Lc 10,1)

 Carregamos resquícios de uma falsa visão da santidade como afastamento do mundo e de seus perigos buscando refúgio no deserto, nas montanhas ou nos conventos. O(a) santo(a) não se afasta do mundo, mas encontra Deus agindo no mundo. mundo é o “habitat” da sua missão e a fonte da sua espiritualidade.

É neste mundo que Jesus nos chama a estender o Reinado do Pai, trabalhando cada dia como discípulos que passam, observam, curam, ajudam, e multiplicam os gestos humanos de entrega.

Somos apaixonados pelo Reino e pelo mundo, pois o Deus Santo habita em tudo. O(a) discípulo(a) de Jesus é aquele(a) que afirma: “Fora do mundo não há salvação”. Tudo é “diafania” de Deus. Enraíza sua convicção nesta mística da presença de Deus em sua obra, na contemplação de um mundo chamado a reconverter-se em justo e belo, verdadeiro e pacífico, unido e reconciliado, entranhado em Deus, como no primeiro dia da Criação.

A vocação à santidade ativa em nós a paixão pelo Reino, mobilizando-nos a ir aos lugares do mundo onde há maior necessidade e ali realizar obras duradouras de maior proveito e fruto. Entramos em comunhão com a realidade tal como ela é, olhando-a como “sacramento de Deus”.

O(a) discípulo(a) missionário(a) não é aquele(a) que, por medo, se distancia do mundo, mas é aquele(a) que, movido(a) por uma radical paixão, desce ao coração da realidade em que se encontra, aí se encarna e aí revela os traços da velada presença do Inefável; o mundo já não é percebido como ameaça ou como objeto de conquista, mas como dom pelo qual Deus mesmo se faz encontrar. O mundo não é lugar da exploração e da depredação, mas é o lugar da receptividade, da oferenda e do encontro inspirador.

Seguir Jesus exige de nós uma dinâmica continuada, um colocar-nos a caminho em direção às margens. Não podemos viver o chamado do “Rei Eterno” a partir de uma cômoda instalação pessoal. A disponibilidade, o despojamento e a mobilidade são exigências básicas.

Corremos o risco de viver em mundos-bolha, e de construir nossa vida encapsulada em espaços feitos de hábito e segurança, convivendo com pessoas semelhantes a nós e dentro de situações estáveis. Tudo conspira para nos manter dentro dos limites convencionais e do politicamente correto. Muitas vezes “vemos” o diferente só como notícia, sem sentir e sem se compadecer.

O encontro com o diferente possibilita também o encontro consigo mesmo. Isso implica em se perguntar pela própria identidade, por aquilo que dá sentido à própria vida vivendo os valores do Reino. O deslocamento expõe quem se desloca, e deixa-o vulnerável pela realidade encontrada.

Como discípulos(as)-missionários(as) de Jesus, nosso desafio não é fugir da realidade, mas aproximar-nos dela com todos os sentidos bem abertos para olhar e contemplar, escutar e acolher, percebendo a presença do Deus que nos ama. O mundo precisa de místicos(as) santos(as) que descubram onde está Deus criando algo novo, para proclamar esta boa notícia. 

Os cristãos honramos a santidade universalsem fronteiras de raça, de credo ou de cultura...

Santidade é dizer sim à vida; é um caminho a ser percorrido “de dois em dois”; caminhamos em companhia para estender a mão quando caímos, e sustentar o outro quando precisar... E, também para ter alguém com quem poder brindar, celebrar e agradecer.

Estamos no mundo à maneira de Jesus...


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