2º DTP: RESSURREIÇÃO é tocar a carne e curar as feridas... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Mostrou-lhes as mãos e o lado... (Jo 20, 20)

No 2º domingo de Páscoa de cada ano, a liturgia nos apresenta o belíssimo relato do evangelho de João. Esta dupla aparição do Ressuscitado aos discípulos (na ausência de Tomé, e depois na sua presença), nos diz algo sobre a comunidade cristã primitiva, mas também ilumina nossas comunidades de hoje. 

A nova comunidade pascal em torno à presença de Jesus; comunidade que vive da experiência do encontro com Aquele que consumou sua vida em favor de todos, e as chagas serão a melhor expressão da identidade entre o Crucificado e o Ressuscitado. Comunidade de amor, capaz de viver o perdão e ser presença misericordiosa.

Somos “seres ressuscitados” quando vivemos os dons do Ressuscitado, comprometidos com o Seu projeto de vida, para aliviar as dores e as feridas da humanidade.

A CF/2020, com o tema “Vida: dom e missão”, nos faz tomar consciência de que todo aquele(a) que se experimenta como “Vida” é já uma pessoa “ressuscitada”.

Quando acolhemos a presença do Ressuscitado, a vida se destrava e torna-se potencial de inovação criadora. É vida em movimento, e gesto de ir além de nós mesmos

Chama-nos a atenção (sobretudo nos evangelhos de Lucas e de João) que Jesus ressuscitado tenha tanto interesse em mostrar a seus discípulos as chagas de suas mãos, seus pés e de seu lado aberto. Um ressuscitado com chagas? Jesus ressuscitado toma a iniciativa, e deixa-se ver. Os discípulos buscam um cadáver, e Jesus ressuscitado busca aqueles que o tinham seguido desde a Galileia.

As chagas de Jesus ressuscitado são algo mais que um modo de dizer “sou eu mesmo”. São expressão de identidade, e pertencem a seu novo ser de ressuscitado. A fragilidade da carne foi assumida na glória do Corpo ressuscitado. Por isso, suas chagas são terapêuticas, pois curam as nossas... São feridas que curam feridas.Tudo é iluminado, e adquire novo sentido.

Em meio à comunidade dos discípulos reunida, o evangelho de João destaca a figura de Tomé, aquele que lhe custa crer na ressurreição do Jesus Histórico, do crucificado. Provavelmente, ele acreditava em Jesus sem feridas ou cicatrizes, num Cristo glorioso e não histórico. Tomé queria tocar em Jesus de um modo espiritual, “quase angelical”... 

Contra isso, a comunidade lhe diz que é preciso “tocar nas chagas de Jesus”. O Senhor Ressuscitado continua sendo aquele que carrega em suas mãos e lado as feridas de sua entrega, os sinais de seu amor crucificado em favor de todos. O Jesus pascal continua presente nas chagas dos homens e mulheres de mãos quebradas, na ferida do lado dos homens e mulheres que sofrem. Jesus ressuscitado não é um “fantasma”, mas o mesmo que foi crucificado. 

Ao mostrar suas chagas, Jesus revela que as chagas da humanidade continuam abertas, esperando que seus seguidores prolonguem os gestos de cura e cuidado do mesmo Jesus. São estes e que atestam hoje a vitalidade do Ressuscitado. Crer na Ressurreição é um compromisso com a vida.

Só podemos “tocar” em Jesus “tocando” (ajudando) os enfermos e crucificados da história.
O evangelho deste domingo nos pede: 
Abrir nossas portas e janelas para que todos possam ver o quanto de vida há dentro de nós, afastando todo dogmatismo e legalismo que sufocam nossa fraternidade e alegria.
Viver em comunhão, e como Tomé retornar à comunidade. 
Sonhar com uma Igreja que rompa os túmulos do conservadorismo, do legalismo, da apatia, “vivendo em saída” para “tocar” os chagados e lhes oferecer o dom da unção e do consolo.





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