24º DTC: A FORÇA RECONSTRUTORA DO PERDÃO... (cf. Pe. A. Pallaoro SJ)

“Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?” (Mt 18,21)

O Evangelho deste domingo faz parte do “discurso comunitário”, cap. 18, de Mateus. Hoje, o tema principal é o do perdão. Mateus recolhe as instruções de Jesus sobre a maneira como os irmãos devem proceder dentro da comunidade cristã. Sem o perdão mútuo torna-se impossível qualquer tipo de comunidade. O perdão é a mais alta manifestação do amor; o perdão é o superlativo do amor. É impensável um verdadeiro amor que não traga consigo o perdão.

Nesse sentido, o perdão deve ser, não um ato, mas uma atitude que se mantém durante toda a vida e diante de qualquer ofensa. Aexpressão “setenta vezes sete” quer dizer que é preciso perdoar sempre. Os rabinos do tempo de Jesus falavam em perdoar as ofensas até quatro vezes. 

Jesus se deixa guiar pela “lógica da superabundância” e não pela lei da reciprocidade, da equivalência...; O perdão é amor superando a justiça, e misericórdia divina superando a lei humana.

Jesus sabe que somos frágeis como o barro; sabe também que com o barro de nossas vidas é possível fazer obras de arte.

Contam que uma pessoa tinha um vaso precioso e de grande valor. Alguém curioso o tomou em suas mãos e, por um descuido, escorregou de suas mãos e se fez pedaços ao cair no chão. Mas ali havia um artista que prontamente se ofereceu para acalmar os ânimos e refazer o vaso quebrado. Levou-o para sua casa e foi unindo os pedaços com fios de ouro. Era uma preciosidade. Impossível imaginar aquela obra de arte. 

Este é o sentido e a missão do perdão. Com frequência, a comunidade cristã se faz pedaços com as ofensas fraternas. Pode dar a impressão que ela se quebrou para sempre. Mas, aparece a capacidade de tornar a soldar o que estava quebrado, com os fios de ouro do perdão. E a comunidade que se havia quebrado, agora volta a ser uma comunidade nova muito mais evangélica.

Não é fácil perdoar, como não é fácil amarDifícil é perdoar o agressor, não apenas desculpando-o, mas sendo capaz de amá-lo na totalidade do seu ser. Esse é o traço característico da comunidade cristã.

Perdoar supõe reconhecer a grandeza do ser humano; para além da fragilidade, a pessoa que perdoa ou acolhe o perdão encontra-se com o melhor de si mesma. Afirma que nela “há sempre mais coisas dignas de admiração e de respeito”. E quando alguém perdoa, suscita um retorno à autenticidade no universo relacional consigo mesma, com os outros, com o mundo e com Deus.

perdão não é negar, nem esquecer, nem forçar os sentimentos. ponto de partida do perdão é o pleno reconhecimento da ofensa que rompeu a relação. Quem perdoa não se deixa conduzir pela “memória mórbida”, ou seja, não fica “remoendo” o que de mal aconteceu; pelo contrário, reconstrói, através de uma memória sadia, a identidade do outro, para captar sua dignidade mais profunda como ser humano valioso que é, apesar das fraquezas e limitações. O perdão é um ato de fé na bondade fundamental do ser humano.

O perdão é uma ocasião privilegiada para defrontar-se com seus sentimentos agressivos, suas expectativas e a história passada. Quem perdoa pode conquistar maior liberdade para relações pessoais mais profundas e duradouras. Onde se vive o perdão abre-se um novo futuro de paz.

Os recursos do verdadeiro perdão são infinitos. Eles jamais acabam. Uma pessoa que perdoa algumas vezes e se recusa a perdoar outras vezes, não conhece o significado do perdão.

perdão é um estilo de vida; uma disposição permanente. Na verdade, o “perdão não é algo que a pessoa faz, é algo que a pessoa é”. O perdão precisa ser um gesto repetido muitas vezes até se tornar um “hábito do coração”.

O Evangelho fala 77x7 vezes. 

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