UM SONHO ECOLÓGICO...


Numa realidade cultural como a Amazónia, onde existe uma relação tão estreita do ser humano com a natureza, a vida diária é sempre cósmica. O Senhor ensina-nos a cuidar dos nossos irmãos e irmãs, e do ambiente que Ele nos dá a cada dia. Ao lado da ecologia da natureza, existe uma ecologia “humana”, a qual, por sua vez, requer uma “ecologia social”. Tudo está interligado!

A sabedoria dos povos nativos da Amazónia inspira o cuidado pela criação, com clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso. Abusar da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador. Os indígenas, quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuidam. As multinacionais cortam as veias da nossa Mãe Terra.

Na Amazônia, a água é a rainha e encanta no grande Amazonas, que vivifica tudo ao seu redor. «O rio não nos separa; mas une-nos, ajudando-nos a conviver entre diferentes culturas e línguas». Os poetas populares, enamorados da sua imensa beleza, procuraram expressar o que o rio lhes fazia sentir. Mas, também lamentam os perigos que o ameaçam por tanta riqueza e tão grande beleza.

O equilíbrio da terra depende também da saúde da Amazónia. Nas entranhas da floresta subsistem recursos indispensáveis para a cura de doenças. Os seus peixes, frutos e outros dons sobre-abundantes enriquecem a alimentação humana. Importância de cada parte para a conservação do todo. O interesse de algumas empresas poderosas não deveria ser colocado acima do bem da Amazónia e da humanidade inteira.

A água é um bem essencial para a sobrevivência humana, mas as fontes de poluição vão aumentando cada vez mais. Além dos interesses económicos de empresários e políticos locais, existem também «os enormes interesses económicos internacionais». A solução não está numa «internacionalização» da Amazónia, mas na responsabilidade dos governos nacionais. É louvável a tarefa de organismos internacionais que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, para que cada governo cumpra o dever próprio de preservar o meio ambiente.

Para cuidar da Amazónia, é bom conjugar a sabedoria ancestral com os conhecimentos técnicos contemporâneos, mas procurando sempre intervir no território de forma sustentável. Aos povos nativos, cabe receber a informação completa e transparente dos projetos, com a sua amplitude, os seus efeitos e riscos, e, assim, dar ou negar o seu consentimento ou então propor alternativas.

Os mais poderosos nunca ficam satisfeitos com os lucros que obtêm. O grito da Amazónia ao Criador é semelhante ao grito do Povo de Deus no Egito, e clama por liberdade. Por nossa causa, milhares de espécies já não darão glória a Deus, nem poderão comunicar-nos a sua própria mensagem, pois não existem mais. Não temos o direito acabar com elas.

Podemos contemplar a Amazónia, e não apenas analisá-la; podemos amá-la, e não apenas usá-la; podemos sentir-nos unidos a ela, e não só defendê-la: então tornar-se-á nossa, como uma mãe

Despertemos o sentido estético e contemplativo que Deus colocou em nós e que, às vezes, deixamos atrofiar. Quando não se aprende a parar a fim de admirar o que é belo, não surpreende que tudo se transforme em objeto de uso e abuso sem escrúpulos


Amazónia é um lugar teológico, um espaço onde o próprio Deus Se manifestaQuanto mais vazio está o coração, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir... A obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm possibilidades de o manter, só poderá provocar violência e destruição recíproca.

Precisamos reeducar-nos ecologicamente...


2 comentários:

  1. Esse texto reflete a velha imagem do europeu colonizador do século XIX quanto ao Brasil.
    Preso ao romantismo utópico, idealista e irrealista; a realidade é um detalhe quando não uma inimiga.
    José de Alencar ao menos poderia justificar sua "liberdade criativa" com a falta de informação da época, nossos contemporâneos, no entanto, não! Vivem em negação: assim como os românticos do século XIX, não tem interesse algum por Iracemas, Ubirajaras ou Raonis; índios e natureza são os meios para um fim ideológico, nossos auto proclamados indigenistas e defensores da natureza do século XXI se fazem seus porta-vozes mas nada mais são que vozes vazias de um mundo que só existe em suas mentes.
    Nessa dinâmica fazem leis, arbitram sobre como os indígenas devem viver (mesmo contra suas vontades) e chegam até a promover Sínodo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Excelente comentário. É a mais pura realidade. (C. Amorim)

      Excluir